Ora, me parece lógico, se você tem a bola em seu domínio você está mais perto do gol, consequentemente da vitória, e logo, mais longe da derrota.
Porém, uma partida de futebol tem dois momentos para todo time, que se alternam constante e inevitavelmente; o momento de atacar - posse de bola - e o momento de se defender - ausência de posse de bola.
É óbvio que essa observação não é apenas atual, mas diferentemente de outrora quando muitos times eram "marcados" por sua própria fragilidade e incompetência, o futebol moderno não permite que um time não saiba como se comportar na ausência da posse de bola. Até mesmo o irresistível Barcelona, que não larga a redonda, tem sua postura definida nos poucos momentos em que ela não está sob seu controle; e é exatamente essa consciência de posse, ou não, da bola - aliada a fantástica qualidade claro - que difere o original da Catalunha dos genéricos mundo afora.
Futebol é jogo de bola, mas saber jogar sem a bola é fundamental. Muitos querem copiar o protagonismo catalão, mas focam apenas em imatá-los na movimentação ofensiva, se esquecem do segundo momento.
A atual geração - leia-se os convocados por Mano Menezes para a Copa América - do futebol brasileiro é indiscutívelmente brilhante com a bola nos pés - não perdem em qualidade aos espanhois - já sem ela, há muito trabalho a ser feito. Geração aliás que já é seguida de perto por uma próxima leva de talentos comandados por Adryan e Lucas Piazon.
Adryan e Lucas Piazon |
A seleção brasileira sub-17, que disputa o mundial da categoria no México, acaba de passar para as quartas de final da competição em jogo duro contra o Equador.
O jovem time brasileiro é - acredito que muito mais por coincidência, até pelo esquema tático que se assemelha muito mais com a seleção de Mano Menezes - outra feliz coincidência - do que com Barcelona - mais um exemplo de genérico espanhol, dado os devidos descontos pela inconstância natural da idade, só joga com a bola nos pés.
Um time que da gosto ver jogar. Sobre a batuta de Adryan e Lucas Piazon na meia canja o time apresenta um toque de bola envolvente e muita presença ofensiva atacando sempre com 5 ou mais jogadores. Tem seu calcanhar de aquíles no sistema defensivo, apesar do bom goleiro Charles, o miolo de zaga não transmite segurança e a saída de bola fica prejudicada ao menor sinal de marcação adiantada por parte dos adversários.
Ademilson - autor do primeiro gol diante do Equador |
O primeiro gol da vitória de 2x0 sobre a boa seleção equatoriana - aliás, alguém pode me responder qual é o fim dos tantos talentos do futebol de base equatoriano que simplesmente desaparecem ao chegarem no profissional ? - foi uma pintura, com direito a passe de calcanhar, infiltração do bom lateral direito Wallace que rolou para a linda conclusão de Ademilson.
Gerações de talento brotam em solo brasileiro, como bem definiu o gênio das letras Luis Fernando Verissimo: o papel do futebol no Brasil é ser metáfora, um país que produz tanto talento que é obrigado a escoar para fora do país porque o mercado interno não da vazão.
Um pouco mais de organização e consciência e faremos nossos próprios Barcelona's.