"Além dos sinais externos que denunciam - cabelos brancos, cabelo nenhum, rugas, barriga, essas indignidades - as gerações se reconhecem pelos jogadores de futebol que se têm na memória"

Luis Fernando Veríssimo

7 de jan. de 2013

A escolha do melhor do mundo

Amanhã teremos a escolha do melhor jogador do mundo. Andrés Iniesta, Cristiano Ronaldo e Lionel Messi são os indicados. Meu voto é do argentino. Embora seja um admirador do futebol dos outros dois, especialmente de Iniesta, eles tiveram o maldito azar, ou abençoada sorte, de nascerem na mesma época Messi.

Mas o assunto me levou a outra reflexão: Copa do Mundo de 2014. Explico. É impossível afirmar que Messi levará o prêmio amanhã, tampouco que chegará a Copa como melhor jogador do mundo, ao menos oficialmente, entretanto é certo e seguro que estará por aqui para a disputa do mundial, e começar a se preocupar com ele é, além de altamente recomendável, essencial, se quisermos evitar que ele levante a taça  por aqui.

Messi foi o protagonista, dentro de campo, de um time que revolucionou o futebol de uma forma que não era vista desde a Laranja Mecânica de Johan Cruyff, em 1974. Inovou de uma maneira tão humilhante que os adversários não são sequer capazes de imitá-lo. O mentor da maior revolução futebolística do século? Pep Guardiola.

Extraoficialmente, Pep Guardiola já tinha aceitado dirigir a seleção. Em 4 anos a frente do Barcelona, conquistou 3 campeonatos espanhois, 2 Copas da Espanha, 3 Supercopas, 2 Ligas dos Campeões e 2 Mundiais de Clubes
A frente de um time de outro mundo, com um camisa 10 de outra galáxia, Pep venceu mais de 70% de seus jogos. Frequentemente com mais de 70% de posse de bola. Frente a times razoáveis como Chelsea, Milan, Real Madrid, Manchester United.

Nada contra Felipão, mas perdemos nossa melhor chance de vacina "anti-Messi" ao ignorarmos o nome de Pep Guardiola para o comando da seleção brasileira. E corremos o risco de ter perdido o bonde da história.
José Maria Marin - Presidente da Confederação Brasileira de Futebol
Contra os argumentos usados por José Maria Marin para justificar, apenas uma palavra: Coerência - ou falta dela. Segundo o "entendedor" de futebol que comanda a CBF, Pep não conhece os jogadores brasileiros. Como não se boa parte da seleção joga na Europa? E ainda que tenhamos atualmente uma seleção bem "brasileira", de quanto tempo o treinador precisaria para conhecê-los? Pep nunca dirigiu uma seleção. O mesmo Felipão escolhido para voltar ao comando da seleção, jamais esteve a frente de um selecionado nacional antes da Copa de 2002.

No último jogo da seleção brasileira em 2012, contra a Colômbia, 7 dos 14 jogadores que atuaram já jogaram ou enfrentaram Pep Guardiola por seus clubes
O terceiro argumento é tão hipócrita que sequer merece contestação. Pep é estrangeiro. Já dizia o célebre Samuel Johnson: "O nacionalismo é o último refúgio dos canalhas". Quantas partidas o seleção faz por ano dentro e fora do país? Das empresas que controlam e financiam a seleção brasileira, quantas são nacionais? Fornecemos o que temos de melhor dentro dos campos para os clubes europeus. Nossos craques desfilam sua habilidade para gringo ver, e pagar. Controladores estrangeiros. Mas o treinador precisa ser brasileiro. Isso me soa a tão tradicional arrogância brasileira. Nos recusamos a aprender o que achamos que ninguém faz melhor do que nós.

Cria-se uma cortina de fumaça. Muda-se alguma coisa para que tudo continue igual e seja aceito pela maioria alienada. Escolhemos um passado, que teve seus méritos, mas que passou, em detrimento de um futuro inovador. Um futuro que curiosamente nos levaria de volta ao passado, quando o futebol da seleção brasileira era a referência e a inspiração que todos os outros tentavam imitar.

Não temos o melhor do mundo dentro dos campos. Perdemos a chance de ter o melhor do mundo fora deles.