Se você trabalha em um ambiente administrativo - escritório - ou, independente disso, faz uso da alguma maneira de um calendário, com certeza o faz com o objetivo de organizar sua agenda e suas tarefas diárias. Logo, concluimos que: calendário remete a uma série de benefícios organizacionais para o usuário, para que seus compromissos e atividades não se sobreponham em um mesmo horário e prejudiquem uns aos outros.
Tempo e administração do mesmo. Algo que falta à sociedade moderna. Diferentes interesses nos conduzem a uma série de compromissos que por vezes trazem a sensação de que nosso dia precisaria de 50 horas no mínimo - fora o tempo de sono, claro.
Feita essa observação sobre calendário, tempo e administração, chego ao ponto convergente desses três elementos no assunto futebol; a seleção brasileira.
O apito final da partida de ontem entre Brasil(2) e (0)Egito pôs fim também no primeiro ano - na prática - de preparação e renovação da seleção brasileira para a Copa de 2014 sob o comando de Mano Menezes. E como é de praxe, finais de temporadas - e anos - são marcados pelos famosos balanços e retrospectivas, que no caso da seleção brasileira apresenta um aspecto curioso.
Embora tenha enfrentado algumas grandes seleções durante o ano, o principal adversário, que a seleção é obrigada a enfrentar e driblar - muitas vezes sem sucesso - reflete a mesma imagem no espelho e atende pelo nome de CBF.
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Granja Comary - Local de concentração da seleção principal e categorias da base da seleção brasileira. |
O calendário organizado por Ricardo Teixeira e sua trupe parece ter a intenção clara de prejudicar o futebol nacional de forma geral, desfalcando times em meio a campeonatos, o que prejudica não apenas de forma, prática com resultados em campo, mas bilheterias, espetáculo, entretenimento, emoção, ou alguém duvida que não tivesse a seleção tirado Neymar de nada menos que 14 partidas do Santos no brasileiro e o time da baixada estaria brigando pelo título ? - isso para citar apenas o craque, já que o mesmo Santos, que todos apontam como "o time que seria o acima da média do campeonato" perdeu uma série de jogadores para várias categorias de base da seleção.
O mesmo calendário que obriga o treinador da seleção a convocar ora jogadores "nacionais" ora "extrangeiros" atrasando e prejudicando o cronograma de trabalho na formação de um time, já que não somos capazes de, como todo o resto do mundo, organizar campeonatos que sejam paralisados em compromissos do selecionado nacional.
O problema é crônico e de conhecimento público mas...
CALENDÁRIO 2012:
Pré-temporada: 5/1 a 21/1
Estaduais: 22/1 a 13/5
Libertadores: 25/1 a 4/7
Copa do Brasil: 7/3 a 25/7
Copa do Brasil Feminina: 3/3 a 12/5
Série A: 20/5 a 2/12
Série B: 19/5 a 24/11
Série C: 27/5 a 7/10
Série D: 27/5 a 30/9
Copa Sul-Americana: 8/8 a 12/12
...continuará. Quinze dias para a tão fundamental e primordial pré-temporada para CINCO MESES de, que me desculpem os admiradores, campeonatos estaduais absolutamente INÚTEIS - exceção feita ao espetáculo dos estaduais nordestinos que poderiam tranquilamente continuar como os únicos, já que seus clubes disputam divisões inferiores nos demais campeonatos e possuem um calendário repleto de alternativas e difícilmente sofrem com convocações por exemplo.
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Torcida do Santa Cruz - Exemplo de fidelidade das torcidas nordestinas |
Os estaduais sobrevivem por seu passado e é justamente em respeito a esse passado tão representativo ao futebol brasileiro que deveriam ser urgentemente revistos quiçá extintos, porque atualmente a única serventia desses campeonatos é gerar crises e derrubar treinadores. Vencer o que não vale nada aos olhos dos torcedores é obrigação, perder é sinônimo de vergonha.
Mas como preencher os meses de estaduais se os mesmo forem eliminados do calendário ? Simples. A pré-temporada seria esticada para o tempo que lhe é devido, o campeonato brasileiro desafogado para que jogadores não sejam forçados a um ritmo absurdo de partidas e o tempo restante poderia ser preenchido de diversas formas como por exemplo as saudosas excursões que os times brasileiros costumavam promover pelo mundo outrora. Sem mencionar que comissões técnicas teriam tempo para trabalhar e treinar, o que acrescentaria muito em qualidade técnica e tática aos jogos.
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Santos de Pelé excursionando pela Europa |
Entretanto, o problema do calendário é inerente aos interesses políticos de um homem que para muitos é tão poderoso quanto a presidente da república e que manipula o futebol brasileiro da maneira que bem entende em busca de poder e de seus objetivos pessoais.
A seleção brasileira se transformou em uma ferramente de prestígio e influência política nas mãos de Ricardo Teixeira, que sonha em ser o substituto de Joseph Blatter no comando da entidade máxima do futebol e para conseguir o apoio necessário para tanto, promove situações absolutamente descabidas como essa...
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Imagem do amistoso da seleção brasileira contra o Gabão - gramado em condições absurdas. |
... sem se importar em agregar a imagem da seleção com ditadores e dinastias que controlam nações de maneira autoritária e até violenta há décadas.
A seleção não pode simplesmente querer "levar alegria a um povo sofrido" sem se importar com os meios e conexões tácitos a esses "gestos". Há certos papéis que não cabem e não convém a um time de futebol e a nação que o mesmo representa.
Fato é que essa é uma questão que envolve muitos interesses. O futebol é quase uma fachada e a imagem da seleção brasileira é a última preocupação do homem que comanda a nossa confederação.
A contrariedade de desejos e aspirações no futebol é latente. Cobramos profissionalismo mas nos recusamos a aceitar que "futebol virou negócio". Movimenta a paixão de milhões de pessoas, mas movimenta também a economia de maneira muito significativa. Uma quantia inimaginável é gasta todos os anos em publicidade. Centenas de milhões em investimento físico [atletas e infra-estrutura] e inovações tecnológicas em medicina esportiva, entre outras coisas.
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Ricardo Teixeira - presidente da Confederação Brasileira de Futebol. |
Claro que profissionalismo é bem diferente da politicagem barata e nojenta praticada por Ricardo Teixeira e deve ser o caminho do futebol brasileiro. Inevitável e indispensável. O fato, é que a teoria da "ilha da fantasia" no futebol é uma utopia. Um artifício para que os românticos - como eu - mantenham seu sentimento pelo esporte inalterado.