Apesar do empate, o primeiro encontro da série de quatro partidas entre Real Madrid e Barcelona foi mais uma aula de futebol por parte dos catalães.
Muito se falou depois do jogo sobre a postura da
equipe de Mourinho, e recentemente figuras importantes na história dos dois times deram declarações polêmicas, todas criticando duramente o suposto "melhor treinador do mundo".
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Di Stéfano levou o Real Madrid à cinco títulos da Champions League |
Di Stéfano, maior nome da história do Real Madrid, chamou o próprio clube merengue de "rato", enquanto Johan Cruyff, que fez história com a camisa do Barcelona e que cuja a troca de "carinhos" com José Mourinho não é nenhuma novidade, chamou o português de medroso e retranqueiro.
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Johan Cruyff - Líder da "Laranja Mecânica" e um dos maiores nomes da história do Barcelona |
Quando dirigia a Inter de Milão Mourinho era reverenciado por sua inteligência tática, elogiado pela forma como armava seus times de acordo com o adversário, anulando suas principais jogadas. Assim, A Inter de Mourinho eliminou esse mesmo Barcelona dentro do Camp Nou na Champions League 09/10, assim, Mourinho foi campeão da
Champions League com o
Porto e vem colecionando títulos por onde passa.
Não concordo com quem o chama de retranqueiro, a verdade é que, doa a quem doer, não importa se você dirige o Real Madrid ou o Íbis, se você joga em casa ou em Marte, fato é que tentar jogar de igual para igual com o
Barcelona de Xavi, Iniesta, Messi e cia é suicídio. Mourinho, inteligente que é, sabe disso e não tem vergonha alguma de lançar 7 ou 8 defensores em pleno Santiago Bernabéu em busca do resultado, porque, você pode não concordar, como eu não concordo, pode achar que futebol é muito mais do que simplesmente vencer, como eu também acho, mas não pode negar que o futebol atual é movido por resultados, e isso, José Mourinho apresenta como poucos.
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José Mourinho - Nomeado pela FIFA como melhor técnico do mundo |
Porém repare bem no que está destacado no texto acima, é aí que está o maior erro do português, que provêm dos tempos em que dirigia a Inter de Milão.
Mourinho, por sua personalidade forte e atitudes as vezes toscas, como a de aparecer na entrevista coletiva e não abrir a boca na última semana, se transformou em um personagem do futebol mundial, aparece mais que seus atletas, ganhou uma mística em torno do seu nome e uma importância exagerada para o cargo que possue.
Quando lembramos da Inter de Milão campeã de tudo não mencionamos as belas atuações de Sneijder, da sólida defesa liderada por Lúcio, das partidas magistrais de Eto'o, que até de
lateral jogou, enfim, lembramos apenas que Mourinho levou os italianos à um título desejado por décadas.
Sou fã, apesar de novo, de Johan Cruyff, responsável pela última grande revolução do futebol. Marcou seu nome na história pelo futebol praticado, e não pelos títulos no currículo, e isso é absolutamente extraordinário. Mas não posso deixar de admirar a postura de José Mourinho por fazer o que for necessário para que sua equipe saia de campo com a vitória, usa o regulamento a seu favor, manda à campo o que for preciso e enquanto suas "armas" respeitarem as regras do jogo não há motivos para maiores críticas.
Você pode não concordar com a filosofia, mas tem alguma dúvida de que a torcida merengue será a mais feliz do mundo ainda que o Real Madrid elimine o Barcelona da Liga do Campeões por 1x0 com um gol de mão ?
Como tudo na vida o futebol pode ser visto, encarado e interpretado de diversas maneiras, e o que muitos chamaram de covardia e falta de personalidade por parte do Real Madrid no Santiago Bernabéu é exatamente o que fizeram todos os outros que estiveram frente ao Barcelona, o único que não fez, Shakhtar Donetsk, levou de cinco, fora o baile.
Não se trata de covardia, e sim do inevitável, do incontestável, do absolutamente necessário.
Vale lembrar que tal estratégia funcionou para o Arsenal na partida de ida das oitavas-de-final da Champions, quando o clube londrino chegou a vitória na base do contra-ataque.
É bem verdade que o jogo era válido por outra competição e que o Real Madrid precisava da vitória, mas isso tudo é só a "teoria da tabela" do Campeonato Espanhol, porque na prática, o duelo foi muito mais uma preparação e uma análise para os dois duelos que realmente importam pela Champions League.
José Mourinho é um estrategista como poucos, criticá-lo sentado no sofá de casa é fácil, gostaria de ver os mesmos que criticam, se treinadores fossem, mandarem à campo um time ofensivo para jogar de igual para igual com o Barcelona.
O Barcelona representa o futebol em sua essência mais pura, mas não surge do dia para a noite. O futebol atual que encanta o mundo é fruto de um trabalho de mais de trinta anos que começa nas categorias de base do clube. E enquanto não surgirem outros "Barcelona's", resta aos treinadores buscarem formas de tentar sobreviver a esse rolo compressor azul-grená.