"Além dos sinais externos que denunciam - cabelos brancos, cabelo nenhum, rugas, barriga, essas indignidades - as gerações se reconhecem pelos jogadores de futebol que se têm na memória"

Luis Fernando Veríssimo

15 de nov. de 2020

Paternidade sem modismo

Sempre fui modinha no esporte. Como são paulino cresci vendo meu time ser referência dentro e fora de campo. Morumbi, Reffis, CT Cotia, CT Barra Funda, títulos em profusão.

Discípulo de Sir Alex Ferguson e seu teatro dos sonhos, quando a conversa atravessava o oceano, continuava fácil argumentar.

Quando o papo pulava dos gramados para as quadras, continuava vestindo vermelho para me deliciar com o Chicago Bulls de Michael Jordan e Phil Jackson fazendo história a cada arremesso.

Foi fácil, natural e muito prazeroso crescer amando esporte.

Mas ironicamente, como um conto de fadas que acaba quando você cresce, o encanto e a vanguarda de quem antes era referência, acabou, justamente com a chegada da vida adulta. Alegrias e frustrações trocaram de lugar. E lá se vão anos.

Mas o que o adolescente não sabia é que a maior das alegrias ainda estava por vir para trazer de volta a emoção da expectativa, a paternidade.

A expectativa agora é voltar aos velhos relacionamentos de outrora. Mas, diferentemente desse atualmente, sofredor, minha nova companheirinha não terá o direito de escolher o conveniente modismo, já vai nascer tricolor, no teatro dos sonhos e vestindo o vermelho de Chicago. Se ela vai me agradecer ou não no futuro, só o tempo dirá.

Me julguem.


15 de abr. de 2016

Thank you, Kobe!

Se você reparar na data da última postagem - antes dessa, claro - vai notar que o blog estava parado há cerca de um ano. Ele existe há quase dez, por causa dele, tomei a decisão de fazer a faculdade de jornalismo há cinco anos atrás. Hoje estou formado, trabalhei na área durante anos, e já saí dela, para um novo desafio - ignore esse perfil aí ao lado. A vida e os objetivos mudaram, e o hobbie de escrever e contar histórias - sim, hobbie, porque mesmo quando trabalhava com isso, continuou sendo uma diversão - ficou em segundo plano. Escrever aqui era uma necessidade, quase física, de expor opiniões e emoções que o esporte me causava, não é exagero dizer que eu costumava ser movido por esse sentimento, que, por alguma razão ainda desconhecida, desapareceu nos últimos anos.

Então por que escrever agora? Porque por algumas horas, nesse 13 de abril de 2016, o sentimento voltou, graças a um nome: Kobe Bryant.


Jornalista vive de contar histórias, mas há histórias que não podem ser contadas, porque simplesmente não há como colocá-las em palavras. Foram vinte anos de Los Angeles Lakers. Uma carreira que passou por todas as fases de um atleta absolutamente acima da média: talento, imaturidade, derrotas, aprendizado, amadurecimento, vitórias, conquistas, recordes, auge, lesões, declínio. Kobe enfrentou todos os adversários possíveis e venceu todos eles. Infelizmente, para a nossa tristeza, Black Mamba só não descobriu como vencer um único oponente, o tempo.

O tempo que nos trouxe uma carreira brilhante e nos ensinou a admirar o eterno camisa 24 de Los Angeles, agora nos deixa órfãos do maior expoente da NBA desde a era Jordan.

Nos últimos anos nos acostumamos a ver o gênio sofrendo com lesões e com times medianos. A franquia de Los Angeles fez, na temporada de despedida de seu maior ídolo das últimas décadas, a pior temporada de sua história. Nos acostumamos a "esquecer" o que Kobe fez e representou, mas nesse dia histórico, 13 de abril de 2016, Kobe Bryant entrou em quadra pela última vez para lembrar a todos, quem foi Kobe Bryant. Brilhante, decisivo, surreal, real. Em seu último jogo ainda tinha recordes para quebrar, e pela sexta vez na carreira marcou 60 pontos em uma partida, superando MJ.



"Gênio", essa é a palavra mais banalizada do esporte. Intitula-se gênio quem nada fez para merecer tal reconhecimento. "Gênio" nem começa a descrever Kobe. O que Mamba fez durante sua carreira e em sua despedida nunca mais será visto. Sorte de quem pôde acompanhá-lo, sorte de quem pôde jogar ao lado dele, sorte de quem o enfrentou, sorte de quem de alguma forma fez parte dessa história. 


Sua despedida foi anunciada há meses. Desde então estamos nos despedindo pouco a pouco. Parece até que Kobe sabia o quão duro seria sair de quadra, o quão duro seria vê-lo sair de quadra. Mesmo assim, não foi o suficiente para estar preparado. Na próxima semana começam os playoffs da temporada, mas o único pensamento na cabeça dos fãs do basquete agora é que nunca mais teremos Kobe Bryant desfilando sua genialidade pelas quadras da NBA.



THANK YOU, KOBE!

11 de jun. de 2015

Herois e vilões

Se você é daqueles que acredita em destino, as finais da NBA são o factual do momento. Quando Kyrie Irving saiu machucado na prorrogação do primeiro jogo das finais o pensamento de todos os torcedores do Cleveland Cavaliers certamente foi o mesmo: "complicou o que já não era nada fácil".

A qualidade de Irving é indiscutível. Titular em qualquer franquia da NBA, é quase insubstituível na equipe. Quase.

Matthew Dellavedova é o cara do momento em Ohio. Premiado - com o que parecia um fardo - foi o escolhido para substituir o camisa 2 dos Cavs. E apesar da perda ofensiva que a equipe sofre com a troca, Dellavedova fez o que nenhum outro marcador da NBA conseguira até então: parar Stephen Curry.

Matthew Dellavedova marcando Stephen Curry na segunda partida das finais
A camisa 8 dos Cavs está esgotada nas lojas oficias da franquia depois dessa partida

Na segunda partida das finais o camisa 30 dos Warriors errou 13 dos 15 arremessos de três que tentou. Números absolutamente impensáveis se tratando de Stephen Curry. O mesmo Curry que durante a temporada regular teve mais de 40% de aproveitamento nos chutes de longa distância. E os únicos dois arremessos que caíram foram fora da marcação do australiano, ou seja, enquanto Dellavedova foi o marcador de Curry, ele não pontou.

Era tudo que LeBron James precisava para lembrar a todos porque está na quinta final consecutiva da liga e porque é o centro de uma das maiores discussões da atual NBA, quando comparado a nomes como Michael Jordan e Magic Johnson. Com um triple-double na segunda partida e 40 pontos na terceira, ajudou o Cavaliers a não só passar na frente nas finais como ainda quebrar o mando de quadra dos Warriors. Já são 123 pontos nos três primeiros jogos das finais, recorde da liga.

Se quiserem conquistar o anel pela primeira vez desde 1975, os Warriors terão que reverter o mando de quadra novamente, ou seja, vencer pelo menos uma partida na Quicken Loans Arena, diante do novo xodó da torcida de Ohio e de um LeBron James disposto a provar que os Cavs não precisam de muito mais para conquistar a liga.

As perguntas e desconfianças que antes das finais cercavam o desfalcado Cleveland Cavaliers, agora pairam sobre o inseguro Golden State Warriors. A história do esporte é recheada de superações de herois que parecem mortos e coadjuvantes que assumem o papel de protagonistas quando menos se espera. Mas para cada heroi que a história cria, há um vilão. Com esta final não será diferente, resta saber quem vai assumir qual papel.

Melhores momentos finais - Jogo 2


Melhores momentos finais - Jogo 3

7 de jun. de 2015

A tempo das finais

Sem mais delongas sobre a razão de o blog ter permanecido um bom tempo inativo, o que interessa é: voltamos a tempo dos pitacos das finais da NBA.

Apesar da temporada espetacular de James Harden; apesar dos incríveis dez triple-doubles de Russel Westbrook; apesar de LeBron James; apesar da surpreendente campanha do Atlanta Hawks; apesar da histórica campanha do Los Angeles Clippers; apesar dos Clippers terem o ataque sensação dos playoffs com Blake Griffin e DeAndre Jordan; apesar de tantos outros pesares da temporada regular e dos playoffs, o Golden State Warriors é o melhor time da liga, e Stephen Curry é, de longe, o MVP, não apenas da temporada regular, como já ficou provado, mas também dos playoffs.

Stephen Curry

Ao contrário dos anos anteriores, as finais de conferência dessa temporada consagraram o estilo "chuta-chuta". Atlanta Hawks (28,9 tentativas de 3 pontos por jogo nos playoffs), Houston Rockets (28,5) e Cleveland Cavaliers (28,4). A frente deles, exatamente o outro finalista, Golde State Warriors com os "Splash Brothers" Stephen Curry e Klay Thompson, com 29,9 arremessos de três pontos por partida. A franquia da Califórnia porém é a única que tem bom aproveitamento, com 38,5% das bolas convertidas. A espetacular campanha de 67 vitórias e 15 derrotas na temporada regular e o apelido "Splash Brothers" se deram justamente pelo aproveitamento nos chutes de três.

Os "Splash Brothers" Klay Thompson e Stephen Curry

E os números de Curry realmente impressionam. SC foi o oitavo maior pontuador da temporada regular, com médias de 23,8 pontos, 7,7 assistências, 4,3 rebotes e 2,0 roubos em 32,7 minutos jogados. Converteu 48,7% das tentativas dos chutes de curta e média distância e alcançou 44,3% nas bolas de três. Além disso, aproveitou 91,4% dos lances livres que arremessou e atuou em 80 dos 82 jogos do ano.

Entretanto, apesar das estatísticas e os números terem um peso grande na hora de escrever a história da NBA, de nada valerá se ao final da temporada não vier o anel, e entre os Splash Brothers e o título, está um tal de LeBron James.

Vale lembrar que as finais já começaram e os Warriors já abriram vantagem de 1x0. Vitória por 108 a 100 com 26 pontos de Curry. LeBron James dispensa apresentações, mas o Cleveland Cavaliers das finais, nem tanto. Em uma olhada rápida, o mais desatento pode não reconhecer o time, isso porque James é o único do quinteto titular que está a disposição.

LeBron James está disputando a quinta final de liga seguida

No começo da temporada regular o time titular era Kyrie Irving, LeBron James, Dion Waiters, Kevin Love e Anderson Varejão. Mas ainda no início do ano o brasileiro rompeu o tendão de aquíles e abandonou a temporada. Apesar da baixa, o time de video game montado pelos Cavs engrenou na reta final e foi aos playoffs, mas as classificações vieram a um alto preço. O trio de ouro da equipe começou a se desfazer quando Kevin Love se machucou na quarta partida contra o Boston Celtics na primeira rodada da pós temporada. Agora, Kyrie Irving, que já havia desfalcado o time na final da conferência contra os Hawks deixou o primeiro jogo da final para passar por cirurgia no joelho, deixando como primeiras opções a David Blatt, LeBron, Dellavedova, Shumpert, Mozgov e Thompson.

A história da NBA é cheia de exemplos de jogadores absolutamente acima da média que fracassaram e tiveram sucesso "sozinhos" em quadra. Michael Jordan precisou perder três finais de liga para entender que precisava jogar para o time, Kobe Bryant também viu o anel ir embora diante do maior rival por excesso de individualidade, Larry Bird - possuía sem dúvida um grande time ao seu lado - mas foi o líder da franquia mais vitoriosa da história da liga por mais de uma década. Que LeBron James é acima da média, é inegável - cabe discussão se está no patamar dos citados. Resta saber se será capaz de levar os Cavs "sozinho" ao tão sonhado título da liga.


Melhores momentos do primeiro jogo das finais


Edição com melhores momentos de Stephen Curry na temporada - vale a pena conferir a categoria do MVP da NBA

Para a glória

Já houve uma época em que o principal lazer do homem era assistir outros homens lutarem até a morte. Homens que entravam em uma arena sabendo que apenas um sairia, com vida. Época em que a glória da vitória era ofuscada pelo prêmio maior, a vida. Séculos depois o conceito de diversão do homem permanece o mesmo, ao menos na essência. Embora não haja mais sacrifício de vida - ufa - a glória continua sendo um prêmio singular, ainda que para conquistá-la as vezes seja preciso trabalho em equipe. Um prêmio para quem demonstra a maior das virtudes: fé.

Mais do que talento ou capacidade técnica para se conquistar um objetivo, é preciso, antes de mais nada, acreditar nele. Fé é inerente a vitória. E não digo fé em Deus ou qualquer outra divindade - embora seja cristão - mas fé na própria capacidade de conquistar o que quer que seja. Exatamente o que faltou a Juventus hoje. Na linguagem do boleiro "dava pra jogar mais", fato comprovado nos primeiros quinze minutos do segundo tempo.

Há quem diga no futebol que um gol nos primeiros instantes de partida muda a história que já estava escrita. Fato. O lindo gol do Barcelona logo aos três minutos da primeira etapa certamente jogou por terra tudo que Massimiliano Allegri havia planejado para sua equipe. Se os planos para a partida desapareceram, a Vecchia Signora demonstrou a maior virtude do "mais fraco": auto controle. Apesar da derrota parcial, o time não se desesperou nem se desorganizou em campo. Não criou chances, mas também não correu riscos. Paciência por uma bola. Virtude válida, mas insuficiente para quem almeja a glória - ainda mais na derrota.

Derrota que ameaçou ir embora da mesma maneira como chegou: com um gol em um momento chave da partida. Por dez minutos realmente parecia que a história seria reescrita. O tal "auto controle" costuma ser o "calcanhar de Aquíles" de um favorito quando ele percebe que o favoritismo não está se confirmando, e por pouco a Juventus não se aproveitou disso.

Mas se por alguns instantes faltou auto controle ao mais forte, sobrou convicção. Mesmo nos momentos em que se desorganizou e quase pôs tudo a perder, o Barcelona sabia que era melhor, e jogou com isso em mente. Sem soberba, com respeito, e com convicção de que estava ali por razões muito claras: melhor time, melhor ataque, melhores jogadores. A glória era questão de tempo.

O Barcelona acreditou, a Juventus, mesmo após a bela campanha que fez, hesitou, e pagou o preço, no dia em que o futebol nos ensinou que virtudes e defeitos, como convicção, soberba, fé e descrença, são separados por uma linha tênue, chamada glória.


24 de jun. de 2014

Desequilibrada

Perdoem-me as seleções que voltarão para casa no final dessa semana, mas a Copa do Mundo começa agora. O que vimos até aqui foi uma espécie de confraternização entre os povos, onde havia margem para erros, pequena, mas havia.

A partir de agora essa margem não existe, como diria um companheiro de profissão, com quem tive o prazer de trabalhar nos últimos anos, agora, chora menos, quem pode mais.

O esquema que consagrou a seleção brasileira campeã da Copa das Confederações no ano passado está falido. Os três primeiros jogos dessa Copa são a prova disso. Vencemos duas partidas e nos classificamos em primeiro lugar do grupo por duas razões: talento individual -contra a Croácia Neymar e Oscar desequilibraram, hoje, Neymar, e a entrada de Fernandinho, decidiram o jogo- e o fator casa -fosse a Copa em terras estrangeiras, estaríamos nós nos despedindo hoje. Na única partida em que um desses elementos não apareceu -a individualidade- não saímos do zero.

Engana-se quem pensa que nosso forte é o jogo coletivo, engana-se mais ainda quem acha que só temos um jogador capaz de desequilibrar.

O 4-3-3 armado por Felipão depende de um jogador fundamental: Paulinho. O Paulinho de um ano atrás, recém saído do Corinthians, era o pulmão da equipe, comandava as ações no meio de campo e organizava a retomada e a saída de bola. O Paulinho de hoje, reserva no Tottenham, é inoperante, omisso em campo. Não dá o primeiro combate nos meias adversários, não cobre os laterais, não volta para distribuir a bola ao ataque e não aparece como elemento surpresa na área adversária, justamente sua melhor qualidade, decisiva em muitos momentos no ano passado. E nesse caso, o baixo rendimento do camisa 8 tem causado um efeito ainda mais grave na equipe: O time perde o meio, e fica "rachado" em campo. A "má fase" de Fred é a maior prova disso.

Sem a ligação do meio, a bola não passa por Oscar, quando passa, vem sem qualidade e principalmente, sem opções de jogadas próximas a ele. Com os três atacantes, dois deles abertos pelo lado do campo, o jogadores ficam muito distantes uns dos outros, facilitando a marcação adversária. Na primeira partida, contra a Croácia, Oscar por diversas vezes caiu para os lados do campo para encostar em Neymar, Bernard e nos laterais que avançavam, foi quando saíram as melhores jogadas de ataque. Feito que não conseguiu repetir contra México e Camarões.

E não é só o ataque que sofre, sem o "serviço" de segundo cabeça de área de Paulinho, Luiz Gustavo fica sobrecarregado na marcação, precisa dar combate aos meias deixando a cobertura dos laterias a cargo de Thiago Silva e David Luiz, que a todo momento precisam sair da área para dar combate nas laterias do campo. O lado direito, que teoricamente seria o lado de marcação de Paulinho, é o mais prejudicado. Fator que também sacrifica Hulk, que precisa voltar até a linha de fundo para cobrir as costas de Daniel Alves.

De bico, Fernandinho marcou o quarto gol da seleção
Nos únicos 45 minutos em que nosso segundo volante funcionou, goleamos com facilidade, e foi justamente o segundo tempo da partida de hoje, com a entrada de Fernandinho no lugar de Paulinho. O jogador do Manchester City entrou para fazer exatamente a mesma função, dar o primeiro combate na intermediária e fazer a ligação com o ataque, e fez com qualidade, basta perceber os seguintes fatores: Depois da jogada de Fernandinho na entrada da área, David Luiz cruzou para o gol de Fred -ligação do meio com o ataque. Poucos minutos depois o próprio Fernandinho marcou o gol invadindo a área -elemento surpresa no ataque. Depois que ele entrou, Camarões não conseguiu armar uma única jogada ofensiva -primeiro combate na intermediária.

Há muitas maneiras de um jogador desequilibrar uma partida. Como eu disse, engana-se quem pensa que temos apenas um jogador capaz de fazê-lo. Mas engana-se mais ainda, quem acha que isso será o suficiente para os próximos jogos. Temos uma seleção desequilibrada, para bem, e para o mal.

25 de mai. de 2014

Justiça

"Jornalista isento é mito" - alguém disse, e eu, em meu curto tempo de profissão, corroboro. No íntimo, todos têm uma preferência, uma tendência, uma opinião, o que muda, é a capacidade de não deixar que isso interfira no produto final, a notícia. No jornalismo esportivo essas características são potencializadas, "esconder" a preferência por "A" ou "B" é um tanto complicado.

Ontem, fui colchonero por uma tarde. Tomado, como tantos outros, por um complexo de "Davi x Golias". Impossível não se deixar contagiar pela temporada do Atlético de Madrid. Um "time de futebol" na mais pura essência da palavra. Um "jogo coletivo" dos melhores que já vi na vida.

Para a maioria um time "retranqueiro" que jogou por uma bola e teve a sorte de achá-la jogo após jogo. Visão pequena e superficial de quem só vê o óbvio, ou não. Mais do que uma defesa sólida, os alvirrubros jogam de maneira inteligente, e possuem recursos. Um meio de campo que sabe administrar a posse de bola em momentos chaves da partida e uma força mental impressionante, são capazes de lidar com as mais diversas situações de jogo sem se desorganizar em campo.

Torcida do Atletico aplaude equipe depois da final
A campanha fala por sí. No caminho dos colchoneros até a final, só campeões da liga, Milan, Barcelona e Chelsea. O Atlético de Madrid merecia o título. O futebol merecia o primeiro título do Atlético de Madrid. O inédito título do Altético de Madrid faria melhor ao futebol do que o décimo título do time que mais vezes venceu a Liga. Faria?

160 gols, melhor ataque da Europa na temporada - e acredite se quiser há quem chame Ancelotti e cia de "retranqueiros". Impressionantes 41 gols na liga, com um Cristiano Ronaldo em sua melhor fase batendo todos os recordes possíveis. Uma campanha irrepreensível, eliminando os dois finalistas da última edição da Liga, Bayern de Munique e Borrusia Dortmund, com autoridade. Seguramente, um dos times com maior capacidade de "contra-ataque" da história do futebol.

O Real Madrid tomou um gol em uma falha individual, em um dos poucos ataques que sofreu na partida. Depois disso, impôs seu domínio sobre a melhor defesa da Europa. E se aos colchoneros começava a faltar perna nos quinze minutos finais de partida, aos merengues faltou a presença de seus principais jogadores, Cristiano Ronaldo e Gareth Bale não apareceram para jogar. Mas aí, a principal diferença entre os times apareceu: elenco.

Dí Maria foi o melhor jogador da Final da Champions
Ao perder Diego Costa e Arda Thuran o Atlético ficou sem presença ofensiva, e se CR7 e B11 não estavam em seus melhores dias, não se pode dizer o mesmo de Dí Maria. Como joga esse argentino! E quando Simeone olhou para o banco em busca de alternativas, encontrou... Ádrian Lopez e Sosa. Ancelotti tinha a disposição Marcelo e Isco.

O Real Madrid de Ancelotti - treinador inteligente, que sabe extrair o melhor de cada jogador, e que não muda os jogadores de acordo com esquema, encaixa o esquema de acordo com as características dos jogadores - merecia o décimo título. Carlo Ancelotti merecia o quinto(!!!) título da Liga. O melhor do mundo merecia coroar a temporada com a "orelhuda". O futebol merecia registrar o incrível feito do Real Madrid: 10 títulos europeus! O décimo título merengue foi melhor ao futebol do que o primeiro título colchonero. Foi?

Décimo título do Real Madrid marca quinta conquista da carreira de Carlo Ancelotti e a segunda de Cristiano Ronaldo
Invariavelmente, fez-se justiça, e injustiça. E que registre-se: o gol do título, foi o do Sergio Ramos!