O trem bala
"passou passando" pela ressacada, e não quis saber de receber novos passageiros.
[Perdoem a onomatopeia que mais parece um carro, se alguém conhecer uma melhor para trens - bala - deixe nos comentários por favor]
Aplique qualquer expressão boleira que você conhece; "sobrou", "passeou", "nadou de braçadas", enfim, fique à vontade, todas descrevem exatamente o que foi o jogo.
Uma partida absolutamente brilhante do Vasco da Gama - como há tempos não se via - em um jogo com todas as dificuldades de uma grande decisão; fora de casa, contra um adversário dificílimo de ser batido em seus domínios e uma torcida que costuma fazer a diferença.
Um gol com menos de cinco minutos de partida muda a história de qualquer confronto - muito mais sendo um gol contra. Destroi a estratégia de jogo pensada ao longo de uma semana inteira de trabalho, põe a prova aspectos do time que vão muito além de qualidade técnica e esquemas táticos, como
personalidade e controle emocional; e em uma noite em que nem mesmo a torcida soube se recuperar do "banho de água fria", o Avaí viu a chance de fazer história embarcar em um trem bala e desaparecer à 1000 Km/h.
Apenas pelo jogo de hoje já cravo com toda certeza; esse já é o melhor trabalho de Ricardo Gomes como treinador de futebol. E também uma imensurável surpresa.
Depois de trabalhos irregulares na França e uma passagem que não deixou saudades no São Paulo, Ricardo Gomes assumiu um Vasco aos pedaços em meio a uma campanha vergonhosa no campeonato estadual. Algumas semanas de
trabalho,
reforços e uma pitada de
sorte depois, e o Vasco é o time grande a mais tempo sem perder no Brasil e vai decidir o torneio nacinal mais importante do primeiro semestre, que permite ao vencedor "encostar o burro na sombra" pelo resto do ano e se preparar para a Libertadores do ano seguinte.
Explico:
trabalho porque o vasco não era um
time, era um bando de gente correndo atrás de uma bola e passando vergonha em rede nacional. Ricardo Gomes deu um padrão de jogo, organizou e transformou o Vasco acima de tudo em um time consciente ao mesmo tempo de suas limitações e de duas maiores virtudes.
Reforços porque são exatamente eles que vêm fazendo a diferença. Diego Souza
[melhor em campo hoje], Bernardo, Alecsandro e Eduardo Costa.
Sorte porque contratar não significa necessáriamente melhora, é preciso
saber contratar para suprir as necessidades do time de maneira eficiente e também é preciso que os reforços se adaptem bem não apenas ao time, mas a cidade, ao grupo de trabalho de uma forma geral
[comissão técnica e treinador] e por mais que se estude as contratações minuciosamente, um pouco de sorte para que tudo isso aconteça é fundamental; vide o histórico recente de contratações do Fluminense, que parecia ter feito contratações cirúrgicas, mas que acabaram sendo frustrantes.
O Avaí recebeu o Vasco a um 0x0 de fazer história, além de chegar pela primeira vez na final, seria o terceiro "grande", seguido, a cair na ressacada - o DVD estava ficando lindo. Mas esqueceram de avisar o Vasco.
|
Diego Souza puxa o trem bala em noite de gala na ressacada |
O time de São Januário jogou demais. Cadenciou a partida quando precisou, imprimiu uma velocidade incrível nos momentos certos, em uma combinação perfeita de jogo
coletivo e individual. Coletivo pelo bom posicionamento do sistema defensivo e pelo futebol envolvente nas tramas ofensivas e individual pelos confrontos
homem x homem. 10x0 para os vascaínos [só não foi 11 porque Renan[foto] - belíssimo goleiro - roubou a cena mais uma vez]
O Avaí se perdeu na própra ansiedade, saiu atrás no marcador novamente, mas não teve a "sorte" de "achar" um gol no minuto seguinte como fez diante do São Paulo. O relógio corria e a precipitação ia minando as jogadas ofensivas do time da casa que, ao lado de sua torcida, parecia não acreditar no futebol apresentado pelo time carioca.
Marquinhos não entrou em campo, William tampouco, coube à Julinho tentar desequilibrar, como havia feito em São Januário, sem sucesso desta vez.
Ao Avaí fica a sensação de que não chegou onde poderia, ao Vasco, de que chegou onde ninguém achava que chegaria.
O trem bala segue viagem. Próxima, e última, parada: Couto Pereira.
Só para constar...
|
Dedé = zagueiro de seleção |
Como joga bola esse Dedé !