"Além dos sinais externos que denunciam - cabelos brancos, cabelo nenhum, rugas, barriga, essas indignidades - as gerações se reconhecem pelos jogadores de futebol que se têm na memória"

Luis Fernando Veríssimo

19 de dez. de 2011

A linha do tempo


Inapelável. Frustrante como qualquer derrota - algo normal e aceitável. O Santos não conseguiu endurecer o jogo como se esperava tinha esperança que fizesse. Respeitou demais seu adversário - que é merecedor de tal respeito, diga-se - e pagou o preço por isso.

Se você acompanhou a partida de hoje agradeça pela oportunidade. O mundo acaba de se render ao último time da "linha do tempo" do futebol. Linha do tempo que realmente permanece eterna, que realmente vale a pena ser lembrada.

A Hungria de Puskas, o Real Madrid de Di Stéfano, o Santos de Pelé, o Ajax de Rinus Michaels, a Holanda de Johan Cruyff, a seleção brasileira de 82, o Milan de Van Basten, o Barcelona de Messi...
  
Times que não foram "apenas" grandes times - grandes times houveram e haverão centenas - mas que marcaram época por reinventarem a forma de se praticar o esporte.

Cada vez que o Barcelona entra em campo, vemos uma página de um capítulo da história do futebol sendo escrita. Por parte dos adversários não há o que fazer além de aceitar e reverenciar. A era Barcelona só será encerrada pelo próprio Barcelona. Todas, absolutamente todas as forças do futebol mundial já tentaram; o que se tem de melhor no planeta já ousou desafiar a supremacia catalã e todos foram derrotados com extrema autoridade pelos espanhóis.

A superioridade é tanta que ser goleado por eles não é vergonha alguma, tampouco perder, e até mesmo a dor da derrota é amenizada. Apenas a oportunidade de desafiá-los por 90 minutos já deve ser encarada como uma honra, e uma chance única de "aprender" a jogar futebol.

O Santos tentou e assim como tantos outros fracassou. O placar é indiferente, o Barcelona o constrói como e da forma que desejar, independente de quem esteja do outro lado, e até mesmo a pouca atitude do time santista é perfeitamente compreensível diante de um time que transcende a realidade do futebol.


O Barcelona é hoje o dono do mundo, mas não pelo troféu conquistado, mas por tudo que representa. E o será até o dia da renúncia. Aos demais cabe aceitar, reverenciar, observar e aprender. E é bom que se diga, o Santos está no caminho certo: o caminho que conduz a "linha do tempo" do futebol.

12 de dez. de 2011

A tal da fórmula mágica

Futebol não é uma ciência exata - clichê. Não há fórmula mágica para vencer partidas decisivas. Quando se chega a partida decisiva  de um campeonato, seja ele mata-mata ou pontos corridos, o segredo é não procurar segredos. O segredo, se é que podemos assim nomear, é manter exatamente o mesmo trabalho que tem sido feito até então. Mudar no momento derradeiro de um campeonato significa abrir mão de suas características e quase sempre o time que o faz paga preço alto por tal escolha.

Alemanha x Gana - Copa do Mundo 2010
 
Talvez o melhor exemplo que tenhamos visto nos "últimos tempos" seja a seleção alemã. Melhor futebol da Copa do Mundo de 2010, até encontrar a "temida" Espanha e permitir que o excesso de respeito minasse suas ambições de vitória. Hoje, a Alemanha joga o melhor futebol do mundo - e que futebol ! - , chegará a Copa de 2014 como força a ser batida e não fosse a postura adotada em uma única partida, aquela semi final diante da Espanha, e os alemães poderiam chegar ao Brasil lutando pelo penta, e não pelo tetra.

Espanha 1 x 0 Alemanha - Semi-final da Copa do Mundo 2010

É claro que essa é uma visão simplista de um esporte de muitas variantes e que passa longe da simplicidade. "Manter suas características" é referente a essência de seu futebol e não a mudanças táticas e técnicas que podem sim, eventualmente, fazerem a diferença. A questão é que se seu time é essencialmente ofensivo - caso da Alemanha na África do Sul - recuá-lo para jogar de maneira defensiva (contra-ataques) diante de um time taxado como "favorito" é suicídio. Não se assimila uma nova ideologia de jogo em uma única partida.

E é exatamente essa postura - manter sua essência - que o Santos deve adotar se desejar ter o mínimo de chance de realizar o que nenhum outro clube no mundo conseguiu: desbancar um dos maiores times da história do futebol - "o maior time de todos os tempos dos últimos vinte e quatro anos", idade de quem vos escreve. 

Real Madrid 1 x 3 Barcelona - Mais um show de Messi e cia.

Como vencer um time que cria espaços onde eles não existem ? Como explicar um time que joga sem zagueiros, sem atacantes - ao menos fixos - com quatro volantes e goleia ? [Se alguém souber as respostas por favor postem nos comentários]

Porém, há uma pequena vantagem - se é que podemos assim denominar - a favor do Santos nesse duelo. Explico.

O Barcelona vem ao longo das últimas temporadas colhendo os frutos de um trabalho iniciado trinta anos atrás, exercendo um ideologia de jogo de futebol implantada em todas as categorias do clube, que prioriza a posse de bola e a presença no campo adversário. Com esse sistema de jogo - que eu particularmente considero o "novo futebol arte" - o Barcelona vem "engolindo" todos que cruzam seu caminho e nessa lista estão todas as escolas de futebol do mundo(representadas por seus respectivos clubes): inglesa, alemã, italiana, holandesa(embora o próprio Barcelona tenha muitas influências desta) espanhola, russa, francesa entre outras.

Johan Cruyff - Líder da Holanda de 1974 conhecida como Laranja Mecânica. Idealizador do futebol total. fez história como jogador e treinador do Barcelona, um dos responsáveis pelo futebol atual do clube catalão.

Contudo, há uma escola, única, que o clube catalão ainda não enfrentou e que portanto é desconhecida por eles do ponto de vista prático; a brasileira.

Enfrentar um clube brasileiro é diferente. Enfrentar um clube brasileiro que está em busca de um título mundial é muito diferente. Enfrentar um clube brasileiro que está em busca de um título mundial e conta com Neymar e Paulo Henrique Ganso para tanto, é um caso de exceção.

Os times brasileiros pecam pela instabilidade emocional diante da frieza extrangeira, mas possuem uma determinação e uma química diferente de qualquer outra escola do mundo em partidas como estas e diferentemente de outros anos, o representante brasileiro conta com um jogador de exceção, temido pelos adversários e que por isso, impõe um respeito que clube brasileiro nenhum conseguiu em anos anteriores.

As esperanças santistas
 
Ao mesmo tempo que a tarefa do Santos de 2011 é imensamente mais complicada do que a de brasileiros em um passado recente, o time da Vila também é muito mais qualificado para tal conquista, por isso, as razões para se acreditar e duvidar são proporcionalmente iguais e é bom que se lembre: o esporte em questão é futebol. O imponderável certamente aprontará das suas.

6 de dez. de 2011

Mais loucos do que nunca !

Todo texto sobre títulos e conquistas tende a ter o mesmo formato; erros e vilões desaparecem - nada mais natural - glórias são acentudas e heróis, cada um a sua maneira, aparecem em pencas. Um gol decisivo, uma defesa importante. Alguns segundos bastam para que ao final de sete meses seus nomes estejam escritos na história de um clube e mais do que isso, na história de vida de milhões de pessoas; que o digam Ramires e Adriano.

O campeonato mais emocionante da era dos pontos corridos - clichê de todos os anos, mas que dessa vez procede - chegou ao fim, com muitas histórias para contar. Epopeias dignas de oscar, roteiros que só o futebol é capaz de escrever.

Campeões se fazem com belas histórias e com o Corinthians de 2011 não é diferente. As provocações entre torcidas são válidas, fazem parte da cultura do futebol, mas reduzir a conquista corinthiana a erros esporádicos de arbitragem é pura pobreza de espírito. O Corinthians é campeão com todos os méritos, assim como também o seria o Vasco em caso de título.


Pensando em como definir o Corinthians cheguei a conclusão de que é um time "velhaco" - o que casa muito bem com sua essência de "maloqueiro sofredor" . A impressão que eu tinha ao assistir as partidas do Corinthians, contra qualquer adversário, era a de ver uma disputa entre um "senhor" já bem vivido, que conhece todas as malandragens da vida e que portanto sabe a hora certa de agir ou não, contra um jovem impetuoso, afobado, que sempre esbarrava na "sabedoria anciã" alvinegra.

Um time frio - na melhor definição da palavra - calculista, que sabe a hora certa da dar o bote e acima de tudo eficiente (chega a me lembrar a Internazionale de Mourinho). Um grande time sim, a sua maneira. Oscilou sim, porém não mais que seus adversários.

Em bom "Titês", a "administrabilidade" desse título e tudo mais pelo o que passa o clube - reestruturação - é responsabilidade direta de Andrés Sanchez, que embora polêmico, é o melhor presidente da história do clube; bancou Tite no comando quando a "dona" do time exigia sua saída e colhe agora os frutos de suas convicções.

Tite e Andrés Sanchez

Dentro de campo, a "tecnicabilidade" de Tite foi fundamental para a conquista.O treinador demonstrou possuir todas as qualidades essenciais ao técnico de futebol: frieza, conhecimento tático, leitura de jogo e um profundo conhecimento de futebol e dos seus próprios jogadores. Tite sempre soube o que esperar e extrair de cada um deles, além de uma consciência de momento importantíssima, tanto em substituições cirúrgicas durante as partidas, como em escalações e formações táticas em períodos de oscilação da equipe.

Por si só o dia já seria inesquecível, porém, o mesmo dia que terminou com uma verdadeira festa do futebol brasileiro com o desfecho de um campeonato espetacular, começou com uma perda imensurável à todos.

Ficamos órfãos do nosso "Doutor" da bola. Perdemos um gênio dentro das quatro linhas e um homem que, apesar dos seus hábitos que nos privaram de usufruir por mais tempo de sua companhia, era de uma integridade e de uma sabedoria tremenda fora delas.


Quis o destino que a nação corinthiana perdesse em um dia de conquista um dos líderes de sua mais importante época. Sócrates, um dos líderes da Democracia Corinthiana. Líder eterno de uma nação que só pode ser compreendida por seus integrantes. Como dizem meus amigos corinthianos: "Só quem é".

Título, Libertadores e prêmios individuais. O Campeonato Brasileiro de 2011 está muito bem entregue.


Parabéns Sport Club Corinthians Paulista, Penta Campeão Brasileiro de Futebol !