"Além dos sinais externos que denunciam - cabelos brancos, cabelo nenhum, rugas, barriga, essas indignidades - as gerações se reconhecem pelos jogadores de futebol que se têm na memória"

Luis Fernando Veríssimo

16 de dez. de 2012

Protagonismo inédito

Desde que o Mundial de Clubes passou a ser disputado no formato atual, presença brasileira na decisão não é novidade, a novidade foi a presença brasileira em campo.

Em 2005 o São Paulo chegou a final como azarão diante de um Liverpool que não tomava um gol sequer há mais de dez jogos. Sagrou-se tri-campeão. Em 2006, o Internacional de Porto Alegre chegou ao Japão com a missão de vencer um Barcelona que contava com uma constelação e um astro endiabrado, Ronaldinho Gaúcho. Título colorado. Em 2011 o maior astro do futebol brasileiro embarcou para o outro lado do mundo para enfrentar um time de outro mundo. O Santos de Neymar não conseguiu parar o imparável Barcelona de Messi e cia, mas naquele momento, time nenhuma da história conseguiria.

Eis a diferença das demais finais para a de hoje: os demais entraram em campo como azarão, e surpreenderam o mundo, o Corinthians entrou em campo para jogar de igual para igual contra o campeão europeu, e é bom que se diga, o time brasileiro, tirando a folha salarial, não deve em nada ao time inglês.

O jogo teve vários momentos, como é natural em uma partida de futebol, e na soma deles, o Corinthians venceu porque foi melhor, e não porque uma bola esporádica entrou no gol adversário. Eis a diferença. Portanto, dessa vez não há surpresa no fato de o campeão mundial de clubes ser sul-americano, venceu no Japão, o melhor time que desembarcou por lá. A surpresa esse ano, ficou por conta das arquibancadas. 

E o futebol não se cansa de ser irônico, o time que antes era contestado por ser campeão mundial sem atravessar o mundo, agora é o único que conquistou o planeta dos dois lados do Atlântico.

14 de dez. de 2012

A pizza está servida

A verdade, é que a verdade não interessa a ninguém - antes de prosseguir uma ressalva: o título do São Paulo é incontestável. Sobrou em toda a competição e se tem algum beneficiado com os 45 minutos não jogados da final, foram os derrotados, que escaparam de uma goleada. Dito isso - Não interessa ao São Paulo o risco de descobrir que seus seguranças foram os pivôs da confusão. Não interessa ao Tigre pedir a anulação da partida, simplesmente porque podem haver 30 finais, eles não vão ver a bola. Apenas o fato de não serem punidos já é um prêmio. Não interessa aos anfitriões da próxima Copa desfazer o pensamento tendencioso e xenofóbico de que a culpa foram dos hermanos perante o resto do mundo. Não interessa aos argentinos, leia-se imprensa, que já formaram coro com as "vítimas", uma investigação mais profunda da CONMEBOL que certamente descobriria que as vítimas, de vítimas não têm nada. À CONMEBOL, bom, apurar e punir não são palavras conhecidas de Nicolás Leoz e cia.

A todos interessa apenas uma fatia da pizza. A especialidade da entidade que comanda o futebol sul-americano. Todos se acusam, mas todos vão sentar à mesa juntos. -Bon appétit.


12 de dez. de 2012

Muito prazer, CORINTHIANS

Brasil, Rio de Janeiro, 5 de dezembro de 1976, domingo, 17H00. 147 mil pessoas lotam o Estádio Mário Filho, popular Maracanã, para acompanhar o jogo único da semi-final do Campeonato Brasileiro daquele ano entre Corinthians e Fluminense. O que ninguém sabia até então, é que esse dia ficaria marcado para sempre na história do futebol brasileiro não pelo resultado em campo, mas pelo o que se viu nas arquibancadas. 70 mil corintianos protagonizaram o que ficou conhecido como a "invasão corintiana" ao maior estádio do mundo.

Japão, Toyota, 12 de dezembro de 2012, quarta-feira, 19H30 (horário local). 15 mil corintianos escrevem um novo capítulo da história do futebol brasileiro. Guardadas as devidas proporções, a segunda "invasão corintiana" cruzou fronteiras muito maiores que as estaduais. Continentes e oceanos ficaram pequenos para o tamanho da paixão de uma torcida que esperou mais de cem anos por esse dia.

Assim como na primeira invasão, o time saiu de campo com a vitória. Diante desse cenário, obviedade prevista. Como também é óbvio a data da terceira "invasão corintiana". Domingo, 16 de dezembro de 2012, 20H30, Yokkohama, Japão. Talvez, a obviedade do resultado seja contrariada no terceiro capítulo dessa história, mas pouco importa, porque o Corinthians não precisa mais do título para se apresentar ao mundo, hoje, todos sabem o que move o clube que está na final do mundial da FIFA de 2012. A essência não se perdeu, e jamais irá, mas o fato é que a favela, virou elite.

20 de nov. de 2012

"i"NOVAÇÃO

O mundo é feito por aqueles que têm a capacidade de sonhar. Transformado por aqueles que têm a ousadia de realizar seus sonhos. E "inovação", é a palavra de ordem para ambas as situações.

Desde de que o mundo é mundo, observamos impérios surgirem, atingirem seu auge e lentamente começarem a entrar em declínio até serem engolidos pela próxima idéia inovadora. Curso natural dos acontecimentos, que geralmente têm algo em comum: Uma perda irreparável, leia-se líder.

O cara que comanda não comanda por acaso, comanda porque tem conhecimento de causa. E não se engane, inteligência estratégica e administrativa(jurídica e pessoal) são caracterísiticas comuns a todos os grandes líderes da história da humanidade - dos bonzinhos aos ditadores - e não se prenda apenas a governos, alguns dos homens que mais transformaram o mundo no que ele é hoje, passaram a vida sem sequer pisar nos palácios reais.

Steve Jobs - Fundador da Apple

O último grande transformador que nos deixou órfãos atendia pelo nome de Steve Jobs. A interatividade e a comunicação humana nunca mais serão as mesmas depois de seus "i's". Acesso instantâneo a qualquer informação, na velocidade de um toque, em qualquer lugar. Obra de Jobs e da Apple - gritem e esperneiem quanto quiserem os amantes do Android.

"Pep Guardiola é o Steve Jobs do futebol" - Jorge Valdano - ex-diretor do Real Madrid

Posse de bola. O conceito é simples: Se ela está comigo, eu estou mais perto do gol, e consequentemente mais longe de sofrê-lo. Claro que existe os detalhes, mas basicamente a filosofia é essa, e com os homens certos executando, Pep Guardiola "i"novou o conceito de "futebol arte". Assim como no caso do fundador da Apple, foi seguido por muitos que tentaram repetir sem o mesmo sucesso - Androids do futebol. E assim como no caso da gigante americana, o gigante espanhol dos gramados continua com o selo de qualidade indiscutível, mas sem o mesmo brilho depois da perda de seu líder. Que me desculpem, Tim Cook e Tito Vilanova.

Não aprendeu a lição, vai pra recuperação

É claro que a consequência natural de um rebaixamento é a famosa caça às bruxas, afinal, alguém tem que pagar a conta pela incompetência de muitos. A única diferença é a repercussão que se dá ao assunto, proporcional a grandeza do clube.

Apontar o erro alheio é instintivo no ser humano quando as coisas começam a degringolar, mas no caso do Palmeiras, até para apontar os erros está complicado. A construção da nova arena é uma cortina de fumaça, uma falsa modernidade de gestão que nem de longe existe dentro das quatro paredes do clube.

Tragédia há muito anunciada. O Palmeiras é um time amador jogando em meio a profissionais. O que dizer de um clube que não comparece a reunião de definição do calendário da Federação Paulista de Futebol e alega que o presidente não sabia? - Bagunça administrativa. Incompetência na seleção de reforços e elaboração de contratos - uma folha salarial de milhões com jogadores que não seriam titulares nem nos clubes da Série B, que dirá em um clube do tamanho do Palmeiras.

A novela mexicana da contratação de Wesley é emblemática. E a pergunta é: Quem, com o mínimo de noção de futebol, acreditou realmente que Wesley era a solução para o meio campo palmeirense? Betinho, Tiago Real, Daniel Lovinho, Corrêa, Mazinho, Daniel Carvalho... erros com nomes próprios, mas que resumem-se a um só: Felipão - pode por na conta dele, aliás, muito mais na dele do que na de Gilson Kleina, o maior erro do atual treinador palmeirense, foi aceitar ser o atual treinador palmeirense.

Não há muito mais o que falar. E o futebol ainda tem um quê de crueldade. Há 10 anos atrás o maior ídolo da história do clube ironizou: "Só caimos de novo quando nosso rival vencer a Libertadores", pagou a língua. O Palmeiras está de volta ao fundo do poço, porque aparentemente uma vez foi pouco para aprender a lição. Teoricamente a única alternativa é subir, mas o Palmeiras anda demonstrando uma capacidade incrível de superar a própria incompetência. - tanto é que, como muitos clubes grandes, foi rebaixado antes, mas é o único deles que levantou pior do que caiu - O clube com a SEXTA MAIOR ARRECADAÇÃO DO PAÍS - EM OUTRAS PALAVRAS, O SEXTO MAIS RICO - DEU AULA DE INCOMPETÊNCIA EM TODOS OS ASPECTOS. Mas é bom se lembrar que o poço do futebol tem subsolo, C e D.

13 de nov. de 2012

Não sei

Perguntam-me qual a razão de tanto amor, não sei. Perguntam-me qual o motivo de me importar tanto, não sei. Perguntam-me no que esse ou aquele resultado influenciará diretamente na minha vida, não sei. Perguntam-me o que leva as pessoas às lágrimas ao presenciarem vitórias e derrotas, não sei. Perguntam-me o que faz com que dois estranhos se tornem intímos na alegria ou na tristeza de um gol, não sei. Perguntam-me o que faz com que os homens esqueçam milhões de anos de evolução e voltem a sua essência primata comportando-se feito animais irracionais, não sei.


Esses são os números da última partida do Barcelona pela Liga dos Campeões, contra o Celtic, na Escócia. Absolutamente inacreditáveis e surreais. 89% de posse de bola durante a partida - em outras palavras, seu adversário não viu a bola - 955 passes, apenas o meia Xavi pegou mais de 300 vezes na bola, mais que todo o time adversário. Resultado do jogo: Celtic 2x1 Barcelona.

Perguntam-me: "Como isso é possível?"

Não sei. Coloca na lista.

Mas de uma coisa eu sei: É exatamente por causa dessa lista, que o futebol é o esporte mais popular do mundo.

30 de out. de 2012

"E agora, JOSÉ?"

Todo mundo tem razão. Ninguém tem razão. Todo mundo discute. Alguns julgam. O assunto alimenta a imprensa por alguns dias. E vira argumento na memória de comentaristas e torcedores. Roteiro para "polêmica" quando o assunto é futebol.

"Pau que dá em Chico não bate em Francisco", já dizia o poeta[?]. Todos conhecem o estado caótico em que vive a arbitragem do futebol brasileiro. São 47 pesos e 68 medidas pra 20 times. - TOTAL - falta de critério e despreparo regem o comportamento daqueles que detém a palavra de ordem dentro de campo. Esperar o mínimo de qualidade e bom senso é pura utopia - ingênuidade ou burrice.

Não há investimento, não há qualidade. Simples. Investimento não apenas financeiro, mas profissional, esforço na intenção de melhorar a qualidade do "existente", e não para encontrar alternativas paleativas para ajudar a incompetência com mais incompetência.

Um profissional com o mínimo de preparo teria evitado a sinuca de bico em que se encontra o STJD agora. Validar o gol de Barcos significa validar o irregular. Anular com base em interferência externa significa abrir milhares de precedentes para todas as outras partidas do campeonato e colocar a credibilidade da competição em cheque. Anular a partida, idem.

Como diria Carlos Drummond de Andrade: "E agora, José?"
JOSÉ Maria Marin - Presidente da Confederação Brasileira de Futebol

18 de out. de 2012

Papo, chato, de boteco

Sabe aquele tipo de situação que acontece sempre mas quando te pedem um exemplo você nunca sabe o que falar? Pois é, me ocorreu em meio a uma discussão sobre ética no futebol dia desses.

Fim de Campeonato Brasileiro é sempre a mesma história. Fulano vai facilitar para siclano para prejudicar beltrano. Tema repetido. Remake de outros carnavais. De diferente apenas os personagens.

E é nesses momentos em que a discussão de boteco fica elitizada. Ética. Palavrinha que não condiz com a essência popular do futebol, mas que vez por outra acaba no contexto das rodas dos boleiros. Mas a questão que me chamou atenção dessa vez foi outra - até porque, a ética no contexto em que é sempre usada não serve para esse campeonato, pela simples razão de que, doa a quem doer, Atlético-GO, Figueirense, Palmeiras e Sport estão rebaixados. Fato consumado.

"Fulano não poderá jogar contra time "x" porque pertence a ele" - Como disse, não vai me ocorrer um exemplo agora, mas rodada sim outra também isso acontece - lembrei: Juan, não enfrentou o São Paulo, pelo Santos, porque pertence ao time da capital.

Existe uma expressão popular que diz: "Pode não ser ilegal, mas é imoral". Esqueça o futebol por um instante. Você "empresta" um profissional porque teoricamente não está completamente realizado com o trabalho dele na sua empresa. Ele busca aprimorar suas qualidades em outro local. Aumenta a qualidade da concorrência afetando consequentemente o valor de mercado seja lá do que for, produto ou serviço, oferecido. Mas, o mesmo profissional que valorizou o mercado, é impedido de atuar quando sua ação atinge de forma direta a empresa que o "dispensou". Contratualmente legal, mas ético?

O que será que os dirigentes pensam? "Fulano é um décimo segundo jogador nosso infiltrado no adversário para enfraquecê-lo, espioná-lo e quando estiver apto, voltar para o nosso lado. Mas claro, contra nós ele não pode atuar, pois conhece nossas fraquezas."

Quanta bobagem. Esse é o caminho que o futebol brasileiro está tomando, uma imensa discussão sobre burocracia chata e sem sentido. Ético, certo, errado, fair-play, blá blá blá. Enquanto isso, ninguém se lembra de comentar o que de fato importa:



E o que eu acho sobre o papo da ética? Ética no futebol é inerente a conveniência dos fatos. Se é bom pra mim é ético, se não, não é. #simplesassim

17 de set. de 2012

Pérolas aos porcos

Um desabafo emblemático, e de uma importância que pouquíssimos são capazes de perceber. Esse foi o teor da entrevista dada por Muricy Ramalho após a partida entre Santos e Coritiba.

Infelizmente, hoje o futebol e o resultado dentro de campo pouco importam. Pouco importa o fato de que a partida foi decidida pela mais clara definição de “craque” – aquele que pode passar o jogo todo apagado, mas que só precisa de uma bola, um lance, para fazer a diferença.

Pouco importa se o melhor jogador do continente fez mais um gol de placa. Há muito os aspectos que realmente importam, deixaram de ter importância no futebol.

Confesso que não entendo o constante esforço do brasileiro em “matar” seus ídolos. Um esforço sobre humano para manter o maior nome da história recente do futebol brasileiro no país, para que ele seja hostilizado porque apanha em campo.

Muricy foi contundente, e suas palavras servem de alerta em relação ao rumo do futebol brasileiro. “O futebol está ficando chato, e nós estamos matando o melhor jogador de futebol do país, o único que nos oferece o diferente dentro de campo”.

Drible é desrespeito. Jogador que comemora gol com sua torcida é punido. Aquele que pratica o futebol arte e apanha é condenado e perseguido por pseudo-torcedores de futebol.

Por muito menos do que faz Neymar, esportistas são reverenciados mundo afora. Por aqui, nossos candidatos a ídolo precisam conquistar esse merecimento a cada dia. Somos muito exigentes, ou os gringos é que se contentam com qualquer coisa? Valoriza-se tudo lá fora, ou não valorizamos nada aqui dentro?

Valores invertidos. Expressão que já virou clichê, feliz ou infelizmente.

“A gente comemora o gol e é punido. Então é melhor não fazer gol”, não Neymar, o melhor é continuarmos tendo a oportunidade de vê-lo de perto e apreciar um futebol único. Mas infelizmente, Neymar em campo para os torcedores brasileiros, é como jogar pérolas aos porcos.

3 de set. de 2012

Papo de buteco

Pergunte a qualquer jornalista, nove entre dez vão afirmar: algumas das melhores pautas que eles já produziram surgiram de blá blá blás com amigos em um churrasco de fim de semana ou naquele happy hour de sexta-feira. E quando o assunto é futebol, o buteco é capaz de te dar o caderno de esportes de uma edição inteira do jornal.

E eis que durante um blá blá blá com alguns amigos sobre as contratações dos clubes europeus para a temporada 2012/13, um deles soltou uma observação interessante: "É chato ver a seleção da Espanha jogar, já o Barcelona..." - quando o papo é futebol europeu a conversa inevitavelmente passa pelo clube da cataluña, incrível.

Não é novidade para ninguém que seleção da Espanha é basicamente o time catalão com alguns reforços de Madrid. Mas a grande diferença entre as duas equipes - Espanha e Barcelona - não são os reforços merengues, mas a ausência hermana que atende pelo nome de Messi.

Lionel Messi - Melhor jogador do mundo por três anos consecutivos
A filosofia é a mesma: posse de bola. Manter a posse de bola no campo de ataque e sufocar a saída de bola do adversário nos poucos momentos em que ele consegue tomá-la. Esse foi o novo conceito de "futebol arte" apresentado pela melhor geração da história do futebol espanhol no últimos anos. Um estilo que venceu tudo que é possível, fosse com as cores da seleção nacional ou do clube azul grená. Esquema de jogo que atropelou as maiores forças do futebol mundial com uma facilidade assustadora - é bem verdade que a filosofia já deixou de surtir o efeito de outrora, mas isso é assunto para outro post.

Andrés Iniesta - Um dos maestros das duas equipes. Autor do histórico gol na final da Copa do Mundo de 2010
Mas de fato, acompanhar as partidas da seleção espanhola nunca foi satisfação garantida. Da equipe de Vicente Del Bosque podia-se esperar bom futebol e eficiência, jamais espetáculo. Liste as melhores partidas da Copa do Mundo de 2010 e da Euro 2012 e a Espanha aparecerá em duas ou três no máximo, liste as melhores partidas do futebol europeu no mesmo período e certamente será Barcelona x alguém. E é partindo desse princípio que lanço uma nova "tese futebolística": O coletivo é o que determina um time competitivo e eventualmente campeão, mas o espetáculo é inerente ao talento individual.

Faça um exercício de memória - pode ou não voltar a décadas atrás, irrelevante, porque a tese se aplica a todas as épocas do futebol - você vai perceber é possível separar todas as equipes campeãs em dois grupos: eficientes e "artísticas".

Robinho e Alex - Os responsáveis pelo espetáculo dos campeões brasileiros de 2002 e 2003
Apenas para ilustrar: Campeonato Brasileiro, anos 2000. O Santos de 2002, um ótimo coletivo (Renato, Maurinho, André Luis, Paulo Almeida, Elano, Léo, Robert) e talentos individuais acima da média (Robinho e Diego). Resultado: Título e espetáculo dentro de campo. Um ano depois foi a vez daquele que viria ser um dos maiores times da história do campeonato nacional, sem dúvida o maior da era dos pontos corridos, o Cruzeiro de Vanderlei Luxemburgo e Alex. Um time coletivo espetacular com aquele que talvez seja o camisa 10 mais injustiçado de todos os tempos na seleção brasileira. Títulos, show e recordes dentro de campo.

Três ano depois daquele Cruzeiro fantástico, outro time Paulista faria história na campetição. Depois de conquistar o mundo em 2005, o São Paulo iniciaria um hegemonia incrível dentro do país. Tricampeão brasileiro 06/07/08 com um futebol que pode ser definido em uma única palavra: eficiência. Uma equipe que jamais apresentou um futebol vistoso, mas dificílima de ser batida.

06/07/08 - São Paulo conquista feito inédito com três títulos seguidos do Campeonato Brasileiro
Voltamos os olhos para as duas competições mais importantes do mundo, Libertadores da América e Champions League, e os dois últimos campeões são exemplos claros desta tese, não apenas nos próprios titulos em questão, mas também na forma como chegaram até essas competições. O Santos chegou a Libertadores em 2011 como campeão da Copa do Brasil de 2010. De massacre em massacre a equipe da Vila Belmiro conquistou o Brasil e manteve o bom futebol pelos gramados da América. Um coletivo eficiente que contava com um  Neymar endiabrado.

O atual campeão da América chegou a competição continental com um incontestável, mas pragmático, título brasileiro. Manteve o futebol frio e eficiente e conquistou o direito de disputar o título mundial no fim do ano. Campeão com todos os méritos, mas que jamais deu espetáculo dentro de campo. Fato.

Emerson "Sheik" - Herói do título corintiano na Libertadores
Na Champions, o Barcelona conquistou a edição 10/11 atropelando tudo e todos. Um coletivo formado por individualidades acima da média. Na edição seguinte esse mesmo time caiu diante de um coletivo sólido que pode ser definido em uma única palavra: determinação. O Chelsea de Di Matteo ensiou ao mundo do futebol como parar aquele que muitos consideravam "imparável".

Chelsea campeão Europeu 2011/12
É máxima no futebol, nem todo time campeão deu show, mas todo time que desfilou futebol arte pelos gramados, contava ao menos com um jogador muito acima da média. Embora nesses casos o título nunca tenha sido uma certeza - leia-se Brasil de 82.

E é exatamente por isso que as partidas da Espanha são tão "chatas" e as do Barcelona sensacionais. Para azar dos espanhois, o pequeno detalhe que separa a eficiência do espetáculo nesse caso chama-se Lionel Messi. 

25 de ago. de 2012

Futebol: Retrato da vida

Cerca de dois meses depois o De Olho no Lance está de volta. Esse tempo parado foi necessário e inevitável diante de uma completa - a maior em 24 anos - reestruturação na minha vida, pessoal e profissional. Fui obrigado a fazer escolhas e renúncias, a vida é assim, mudanças são necessárias para crescimento e amadurecimento. Mas como isso aqui não é um blog de auto-ajuda, vamo ao que interessa: FUTEBOL.

Para a minha "alegria", o futebol escolheu exatamente esses dois meses para colocar em cena um completo "ineditismo" - aspas porque sinceramente não sei se a palavra existe mas enfim, continuemos - que renderia posts épicos. Calma, Não vou abordar todos os assuntos porque não quero que você feche a janela do seu navegador sem terminar de ler meu texto cansado de um blá blá blá sem fim. Menção honrosa apenas para os principais, afinal, nesse meio tempo o Chelsea conquistou a Europa - com uma campanha absolutamente brilhante - ;O Corinthians conquistou a América - inapelável e indiscutívelmente, doa a quem doer - ; O Manchester City conquistou a Premier League - de maneira épica - ; O Palmeiras conquistou um título de expressão - inédito para os torcedores na faixa dos 15 anos. Sem mencionar os jogos históricos e episódios que certamente estou deixando passar nesse rápido esforço de lembrar dos fatos.

O futebol é assim, cíclico, se renova, se reinventa, molda novos campeões para que novos caminhos sejam trilhados. Ao mesmo tempo que campeões encerram ciclos com a certeza de dever cumprido, ou ao menos com a certeza de ter feito o possível para alcançar os objetivos, novos aspirantes a campeões surgem para assumir o posto de exemplo a ser seguido.

Um jogo de temosia e insistência. Loucura. Albert Einstein, uma das mentes mais brilhantes que já esteve por esses lados define loucura como "fazer repetidas vezes a mesma coisa e esperar um resultado diferente", exatamente o que fazem todos os clubes de futebol do mundo, ano após ano.

Futebol = metáfora da vida. Cíclico e Louco. Fracassos seguidos de vitórias. Conquistas seguidas de derrotas. Alegria e tristeza andando lado a lado, separadas por linha tênue chamada sucesso.

15 de jun. de 2012

11x11

A questão da individualidade no futebol é muito peculiar. Bons valores individuais certamente agregam valor e qualidade a equipe, por vezes fazem a diferença, mas não se sustentam sem um bom "suporte". Muitas vezes o astro que todos exaltam estão naquele patamar fundamentalmente pela ajuda que recebem ou já receberam daqueles que "não aparecem".

O dia de ontem foi emblemático nesse aspecto. Durante a tarde vimos o duelo de duas seleções que estão entre as melhores do mundo. A diferença entre elas? O coletivo por trás dos talentos individuais.

Robben lamenta derrota que deixou a Holanda em situação complicada na Eurocopa 2012
A Alemanha dominou a partida porque seus craques estão inseridos em um equipe sólida, consciente, com "jogadores operários" extremamente eficientes e que se completam. A Holanda por outro lado conta com dois dos melhores atacantes do planeta, Robin Van Persie - desejo de todos os gigantes europeus na próxima janela de transferências - e Arjen Robben, astro do poderoso Bayern de Munique, com um dos melhores camisa 10 em atividade no futebol mundial, Wesley Sneijder, mas não tem a qualidade coletiva necessária para se formar um equipe campeã.

Algumas horas depois o mesmo aconteceu no futebol brasileiro. Na Vila Belmiro, o eficiente coletivo corintiano, que conta com bons valores individuais como Paulinho - um monstro no meio campo - Emerson "Sheik" e Leandro Castán, venceu o time que conta com o melhor jogador em atividade no continente, mas que a muito deixou de ter qualidade coletiva.

Jogadores do Corinthians comemoram o gol da vitória diante do Santos na Vila Belmiro
Neymar não fará a diferença sempre, o que é perfeitamente normal. Ganso é um pseudo-craque. Elano há muito deixou de praticar o futebol eficiente de tempos atrás. Arouca está sobrecarregado na saída de bola. Durval não pode ser zagueiro titular do Santos. O que significa que o coletivo do Santos que venceu a edição passada do torneio continental não existe mais.

Alemanha e Corinthians venceram baseados em sua força coletiva, porque futebol é exatamente isso, um jogo coletivo, não há um único responsável pela derrota ou pela vitória.

7 de jun. de 2012

Descrença que engrandece

No meio esportivo temos o costume de desvalorizar a experiência. Atletas com idade avançada são sempre vistos com desconfiança - o que sinceramente acho irônico e sem sentido, porque os mesmo atletas desvalorizados por sua idade são endeusados no exato instante em que anunciam sua aposentadoria.

E isso é algo que pode ser notado em qualquer modalidade esportiva, o que muda é apenas a idade em questão. No futebol, passou dos 30, os clubes já pensam duas vezes antes de contratar o jogador, acima dos 35, é considerada contratação de altíssimo risco. O mesmo acontece na liga de basquete mais importante do mundo, a NBA. Grandes jogadores são obrigados a conviver com a desconfiança e os comentários pessimistas dos críticos. Obrigados a enfrentar grandes adversário dentro e fora das quadras.

Com ótima atuação de Kevin Garnett, Boston Celtics vira a série da semi-final da Conferência Leste da NBA contra o Miami Heat para 3x2

Na madrugada desta quarta-feira tivemos mais uma prova entre tantas já vistas de que a experiência pode fazer a diferença a favor de quem ao lado dela está em uma partida decisiva. Kevin Garnett, pivô do Boston Celtics, comandou a equipe em uma vitória surpreendente sobre o poderoso Miami Heat, do "Trio de Ouro" LeBron James - MVP da temporada - Dwayne Wade e Cris Bosh em plena American Airlines Arena.

Com a vitória de hoje, o Celtics virou a série melhor de sete para 3x2 e está a uma vitória da final da NBA, prestes a desbancar o milinário e favorito time da Flórida.

Kevin Garnett segue desequilibrando em um esporte altamente competitivo do alto dos seus 36 anos, calando críticos e desconfianças e provando que os conceitos de experiência e favoritismo no esporte precisam ser revistos, quiçá banidos. Que o digam merengues, catalães, bávaros, blues...

Os principais lances da partida:

6 de jun. de 2012

Mas já mudaram as verdades?

A verdade de ontem não é a mesma de hoje. Não quero me gabar, mas eu cantei essa bola, não acredita? É simples, basta ler o post anterior. 90 minutos depois e lá se foi o "oba oba" com a invicta seleção brasileira. Bastou encontrar uma seleção um pouco mais organizada taticamente e com o mínimo - mínimo mesmo - de qualidade técnica e pronto, estamos de volta a realidade, feliz ou infelizmente.

Nem ranzinza nem corneta, apenas realista. Uma vitória sobre uma seleção que consegue ser mais bagunçada que a nossa - Dinamarca - e uma sobre uma seleção que não conseguiu se renovar com uma geração sequer razoável - EUA - não podem mascarar todos os problemas tampouco satisfazer a seleção brasileira de futebol.

Neymar tem atuação apagada na derrota brasileira
O time de Mano Menezes não tem padrão de jogo, não tem esquema definido e o principal: Os jogadores não conhecem suas funções em campo. E começo a achar que nem mesmo o treinador as conhece. O diagnóstico é simples: Pergunte para qualquer brasileiro quem arma, quem defende, quem ataca, quem recua, quem cobre quem, quem joga de que lado, quem substitue quem, quem bate falta, quem bate pênalti, até o mesmo quem é o jogador que mais reclama com o juiz no time do Barcelona e 11 em cada 10 boleiros terão as respostas na ponta da língua. Faça as mesmas perguntas sobre a seleção brasileira...

Nem todas as regras que regem a vida são válidas no futebol. Dentro de campo não se respeita o que não se conhece. Ninguém mais conhece, tampouco respeita, a seleção brasileira. A "fama" de Neymar está longe de amedrontar os adversários. Todos entram em campo e encaram de igual para igual - ao menos no sentido psicológico - o time que antes fazia os rivais tremerem ao menor sinal de sua presença. Se o México usou os contra-ataques e uma postura defensiva, é indiferente, cada um usa as armas de que dispõe. FATO é que outrora isso não era suficiente para vencer a camisa mais tradicional do futebol mundial, atualmente, qualquer Chicharito faz o Brasil "pagar mico" - sem menosprezo.

[OBS: "Salário baixo é suposta prova de que Ronaldinho quer jogo" - Salário em questão: 300 mil reais mensais. Realmente, ganhando essa "miséria" é um absurdo que o cobrem tanto, coitado.]

2 de jun. de 2012

Verdades temporárias

O Brasil goleou o Tio Sam. Fato. Com o mesmo futebol envolvente que há dois anos enchia o torcedor brasileiro de esperança no trabalho de Mano Menezes no comando da seleção brasileira. Fato.

A equipe aprensentou um ótimo toque de bola e volume de jogo. Fato. Muita movimentação, bom jogo coletivo, atuações individuais que devem ser consideradas. Fato. Neymar assumiu o posto de principal jogador do time, buscou e armou como sempre. O garoto não foge da responsabilidade em campo. Fato. Oscar mostrou que se Ganso continuar visitando mais a sala de cirurgia do que as concentrações, perderá o posto de "maestro" do time - se é que já foi algum dia. Fato.

Na retaguarda Marcelo tomou conta da posição que passava de mãos em mãos - ou pés em pés, como preferirem - Fato. Thiago Silva é o melhor zagueiro do mundo. Fato. Rafael será o goleiro das Olimpíadas. Fato. Assim como Damião é o camisa 9 da seleção. Fato.

A sabedoria popular diz que contra fatos não há argumentos. Fato. Mas há a ação do tempo. Mano Menezes está invicto a 10 partidas, com oito vitórias consecutivas, e ainda assim há quem o conteste e afirme que não chegará a 2014 como treinador da seleção. O que acontecerá em caso de um tropeço ou mesmo vitória com mau futebol nos próximo jogos? 90 minutos são suficientes para todo esses fatos caírem por terra. As verdades no futebol são como cortina de fumaça, desaparecem ao menor sinal de mudança dos ventos.

25 de mai. de 2012

Sangue, suor e lágrimas... e lágrimas

A noite de ontem foi emblemática. Sobre a mesma ótica de observação, o futebol nos apresentou dois finais absolutamente distintos. A glória e o fracasso de dois times que perseguem obsessivamente um objetivo inédito em sua história.


O futebol possui particularidades absolutamente contraditórias. Analisando friamente as partidas - deixando de lado seu real valor - nove em cada dez analistas/torcedores/comentaristas diriam que foram partidas pobres e limitadas técnicamente - o que de fato é verdade -, mas uma vez que prestamos atenção no contexto, sangue, suor e lágrimas passam a caracterizar outra face do bom futebol, substituindo fatores como qualidade técnica e jogadas plásticas.

Classificação com a essência de "sofredor" que só o corintiano conhece. Eliminação com requintes de crueldade para time conhecido como "guerreiro", que se acostumou a travar e vencer batalhas que parecem perdidas aos olhos da maioria.

O Corinthians entrou em campo para enfrentar mais do que 11 jogadores que defendiam outra camisa, entrou para enfrentar traumas, fantasmas, medos e a própria ansiedade em busca de uma obsessão, e viu um jogador que é popularmente conhecido pelo diminutivo de seu nome, se agigantar aos 42 minutos do segundo tempo, decretando a classificação em uma noite épica para os mais de 35 mil loucos que lotaram o Pacaembu.
 
Paulinho, heroi da classificação corintiana, comemora o gol com a torcida
Horas antes o futebol havia nos mostrado um outro final para o roteiro sangue/suor/lágrimas. No Engenhão, as lágrimas que foram precedidas de sangue e suor eram carregadas de um sentimento bem diferente das que se viram no Pacaembu: Tristeza e resignação pela certeza de que os guerreiros foram uma vez mais ao limite de suas possibilidades, porém, dessa vez o limite não foi suficiente para atingir o objetivo.

Os mesmos ingredientes. O mesmo fator decisivo: Um gol nos últimos minutos de jogo. Dois finais distintos. Algo que só o futebol é capaz de proporcionar.


17 de mai. de 2012

Cota para a seleção brasileira

Ramires e Arouca estão fora da seleção brasileira. Incoerência anunciada aqui mesmo, dias antes da convocação por aquele que vos escreve(Aos que duvidarem basta clicar aqui).

As justificativas são tão esdrúxulas quanto a convocação. No caso de Ramires, Mano alegou que o ex-cruzeirense deixou de ser volante no Chelsea de Di Matteo. Fato. Virou um meia esquerda, quase um ponta, que volta para compor o meio campo, não lateral como afirmou o treinador da seleção brasileira. E ainda que fosse, até na lateral esquerda Ramires tem espaço na seleção. Desafio alguém a me apontar dois meias esquerda e dois laterais que deixam Ramires sem condições sequer de brigar por posição no selecionado nacional.

Para Arouca a desculpa foi mais estapafúrdia. “Chegou um momento em que estávamos levando muitos jogadores do Santos. Você tem algumas limitações para isso. Não pode levar muitos jogadores do mesmo lugar."

É melhor alguém avisar Vicente Del Bosque que ele está convocando muitos atletas do Barcelona, onde já se viu, eles são os melhores mas jogam juntos, não podem ser chamados não, que absurdo ora essa.

Alguns dirão: "Mas lá os campeonatos param, o clubes não são prejudicados em ceder jogadores às seleções, como os clubes brasileiros que são obrigados a continuar as disputas desfalcados". É o preço que se paga pela incompetência e desorganização de um calendário defasado.

Seleção não é mais sinônimo de reunir os melhores. Chegamos ao cúmulo da insensatez. Agora cada clube tem uma cota para preencher a seleção nacional, os jogadores que briguem entre eles para preencher as vagas.

12 de mai. de 2012

O Sentimento não pode parar

Noites como a de ontem refrescam a minha memória, reacendem e reafirmam meu sentimento por esse esporte.

Consegui uma façanha ontem que não era capaz desde os tempos de Japão - um ano atrás - acompanhar três partidas no mesmo dia - duas delas de maneira simultânea(São Paulo x Ponte Preta e Fluminense x Internacional). E para a minha alegria, o futebol foi generoso com seus fãs na noite desta quinta-feira.

Muito prazer "gênio da bola"
A noite começou com um show - ode ao futebol arte de jovens que nasceram para estar dentro das quatro linhas - um massacre para a história. Gol de tudo que é jeito, para todos os gostos. Um cartão de visitas ao único ser humano no planeta terra que vive do futebol e não conhecia Neymar - assim afirmava o fanfarrão técnico do Bolívar Ángel Guillermo Hoyos - Bom, agora conhece, e com certeza, não esquecerá tão cedo. [Não perca a conta]


Resultado histórico no aspecto estatístico: sexta maior goleada da história da Libertadores da América; no aspecto institucional: o Santos de Neymar igualou o Santos de Pelé na deferença de gols em uma vitória; no aspecto emocional: quem lá estava, não esquecerá.

Luis Fabiano comemora o gol trezentos de sua carreira que classificou o São Paulo para as quartas-de-final da Copa do Brasil
Depois de nos apresentar o talento, o futebol usou seus artistas da bola para nos apresentar sua outra face: a emoção. No Morumbi o São Paulo resolveu colocar um pitada de drama e saiu atrás no placar diante da Ponte Preta, que abriu o marcador graças a uma pintura de gol do atacante Somália. Naquele momento o Tricolor precisava de três gols para evitar a eliminação precoce na Copa do Brasil, e a noite que caminhava para um vexame, se tornou histórica quando ao 22 minutos do segundo tempo, Luis Fabiano marcou o terceiro gol sãopaulino - número 300 de sua carreira - e classificou o time para as quartas-de-final da competição.


Enquanto isso no Engenhão, Fluminense e Internacional decidiam quem seguiria na competição de clubes mais importante das Américas, e como é característico em partidas com duas forças tão equilibradas, o futebol usou de suas minúcias para dar números finais ao jogo. Na venenosa bola parada de Thiago Neves, o time carioca eliminou o bi-campeão continental de virada.

Engana-se quem pensa que somos privilegiados. O futebol é um ser de várias faces e onipresente. Enquanto nos brindava com emoção e espetáculo, sua faca imponderável era vista em terras chilenas, e a classificação que parecia impossível para a Universidad de Chile, chegou com sobras: 6x0 sobre o Deportivo Quito, depois de perder a primeira partida por 4x1.


Noites como essas me fazem imaginar o futebol como um ser mitológico, manipulador, que move as peças no tabuleiro como deseja e faz o que bem entende com os sentimentos que o cercam. Encerra eras, resgata glórias, move o acontecer do fatos de maneira hipnótica, para que ninguém se desvencilhe de suas garras. Definitivamente, noites como essas nos impedem de abandonar o sentimento, mesmo que em certas ocasiões, razões não faltem para isso.

9 de mai. de 2012

Palavras ao vento

Confesso que há pouco mais de um ano atrás, quando Mano Menezes assumiu o cargo que ocupa hoje, fui um dos que se encheram de esperança com a volta dos tempos áureos do futebol brasileiro. O discurso era perfeito - o tal do protagonismo. O resgate da essência do nosso futebol. O que todos desejavam ardentemente depois de quatro anos de absoluto pragmatismo.

Porém - para a nossa tristeza - a ideologia ficou no discurso. O futebol não apareceu, e ao invés do resgate da essência e do protagonismo brasileiro dentro de campo, o trabalho ficou marcado pela absoluta falta de critério - exatamente o ponto em questão nesse post.


O homem que parecia saber exatamente como conduzir o trabalho se perdeu ao assumir um cargo que em nosso país chega a ser mais importante, e a sofrer tanta pressão quanto o presidente da república. Passou a convocar e a desconvocar jogadores de forma aleatória e sem sentido, levando em consideração mais o extra-campo - não que não seja importante, mas não pode ser o aspecto prioritário - do que o desempenho dentro das quatro linhas.

Ramires - que era o homem de confiança de Mano - é a vítima mais recente da alienação do treinador da seleção. Enquanto o ex-cruzeirense joga o fino da bola - e não digo isso apenas pelas partidas recentes, Ramires vem sendo fundamental no Chelsea há algum tempo, deixando jogadores como Essien, Malouda e eventualmente até mesmo um dos símbolos do time, Frank Lampard, no banco de reservas - faz história nas maiores competições europeias, o treinador da seleção brasileira convoca Elias ex-Corinthians e reserva do Sporting(POR) e Fernandinho que joga a "poderosa" liga ucraniana.

Ramires comemorando gol na final da Copa da Inglaterra contra o Liverpool
Sexta-feira tem convocação, a desculpa do treinador seria o fato de Ramires ter sido avançado da posição de volante para a meia esquerda - algo que frequentemente acontece com o volantes brasileiros com boa saída de jogo que vão para o futebol do velho continente - o que o obrigaria a disputar lugar com outros jogadores na seleção. Mas Mano será salvo pelas Olimpíadas e pela desculpa de que tem que aproveitar para treinar o time olímpico nos próximos amistosos.

O fato é que o trabalho de Mano Menezes na seleção prima pela mesma característica que marcou seu antecessor: Incoerência. As escolhas e atitudes do técnico não fazem sentido, de diferente mesmo, apenas a postura, a refinada educação e o discurso, que até agora foram só palavras jogadas ao vento.

26 de abr. de 2012

Prazo de validade

A partida foi espetacular - com requintes de crueldade para torcedores cardíacos. Não vou entrar nos méritos e deméritos das equipes pelo simples motivo de que o resultado esteve em aberto o tempo todo, não há disparidade entre as equipes como havia no outro confronto. Bayern de Munique e Real Madrid são fantásticos ofensivamente e deixam a desejar no setor defensivo. Qualquer um que passasse seria merecido.


O assunto do post é outro, o comentário que mais ouvi no dia de hoje, no espaço de tempo pós eliminação do Barcelona e pré eliminação do Real Madrid, sobre Lionel Messi: "Perdeu um pênalti e seu time acabou eliminado. Não pode ser considerado o melhor do mundo novamente. Agora é Cristiano Ronaldo"

Eis que por um capricho que só o futebol é capaz de promover, o craque português cometeu um erro determinante para a eliminação do Real Madrid diante do Bayern de Munique, curiosamente, o mesmo erro do argentino diante do Chelsea: desperdiçou uma penalidade.


Agora a pergunta que fica é: Quem deve ser o melhor do mundo?

A memória curta e a impulsividade de momento do povo na hora de julgar e analisar futebol chega a ser patética. Um jogo, um resultado e o status de melhor do mundo é transferido. Então, sigamos essa linha de raciocínio e entreguemos a bola de ouro desse ano para Neymar, o próximo da lista. Ah sim, claro, a menos que o Santos seja eliminado da Libertadores com uma falha do camisa 11. 

Messi continua o melhor do mundo. Barcelona continua um time fantástico. Cristiano Ronaldo continua craque. Real Madrid continua sendo Real Madrid. E o resto é só um monte de asneira de pseudo-especialistas de futebol.

Em time que está ganhando...

Messi e Pep lamentam a derrota que pode decretar o fim da era Guardiola no comando do time catalão

Pep Guardiola é o melhor treinador do mundo, treina o melhor time da atualidade e um dos maiores da história, mas errou, e sua falha foi determinante para o resultado da partida.

"Em time que está ganhando não se mexe" certo? O erro de Pep foi esquecer que o seu time, mesmo quando perde, "ganha", e que dois resultados negativos não eram motivo - de forma nenhuma - para mudar o esquema tático de seu time para a partida mais importante da temporada.

O Barcelona entrou em campo em um 3-4-3  - absolutamente sem sentido - com os homens de meio campo em losango, e curiosamente perdeu o controle exatamente desse setor, onde seu futebol faz toda a diferença.

Como se não bastasse a mudança, Guardiola ainda distribuiu seus jogadores de maneira errada em campo, deixando Messi na ponta de cima do losango, a frente dos volantes e infiltrado no sistema defensivo adversário, facilitando a marcação e a diminuição dos espaços por parte dos marcadores, e não atrás como o prefere o craque, jogando com mais liberdade. Resultado: Messi não jogou e o Barcelona parou.

Messi posicionado a frente dos volantes do Barcelona e muito próximo da marcação adversária.
Mas a qualidade do time catalão é tão fantástica que ainda assim o placar necessário foi construido. 2x0 e a vaga na final estava garantida, não fosse a soberba catalã em avançar de maneira desnecessária um time que vencia por 2x0, em casa, com um jogador a mais.

E antes que me cornetem dizendo que estou tirando os méritos do Chelsea, faço questão de destacar todas as qualidades do time inglês.


O comentário que mais me chamou a atenção nesse dia pós partida foi: "Derrota do futebol". Uma besteira sem tamanho. Futebol é muito mais do que "jogo bonito". Futebol não é monotemático, tem muitas faces. Futebol é garra, é entrega, é determinação, é comprometimento. Em muitos momentos esses aspectos superam qualquer qualidade técnica, e nesses quesitos, os jogadores do Chelsea se agigantaram em campo. Drogba e Lampard, símbolos desse time se entregaram de maneira admirável. O Chelsea "suou sangue" e conseguiu uma classificação histórica.

Sem mencionar que: se isso aqui não é futebol...


...alguém por favor me explique do que se trata.

O Chelsea tem problemas para a disputa da final, meio time que eliminou o Barcelona está suspenso. Ramires, Ivanovic, Raul Meireles e Terry estão fora do jogo decisivo. Mas depois de eliminar o Barcelona com a autoridade de quem impôs sua proposta de jogo, você duvida que a taça do campeonato de clubes mais importante do mundo possa parar em Stamford Bridge esse ano?

24 de abr. de 2012

Não faz sentido, faz?

A linha que divide a glória do fracasso no futebol é tênue, e muito inconstante. Um lance, uma bola, um sopro no apito e a história que caminhava para um rumo certo e definido mostra um final alternativo que invariavelmente trará lamentos e vibrações contrárias.

Tão tênue quanto essa linha, é a establidade de um clube de futebol. A paz construída em meses demorona em noventa minutos - essa por sinal é a utilidade básica do campeonato estadual no futebol atual.

O mesmo Corinthians e Ponte Preta de ontem, em um estadual muito diferente do de hoje.

Não vou entrar nos méritos dos estaduais pela enésima vez - quem acompanha o blog há mais tempo conhece a opinião de quem aqui escreve, ao demais, é suficiente saber que: a disputa estadual é tão retrógrada quanto a tabela do futebol brasileiro, queremos a evolução do futebol no país, do gerenciamento do esporte, mas nos recusamos a abandonar tradições que outrora deram certo, mas que já não mais funcionam.

Fato é que: aos clube grandes vencê-los não é mais que obrigação - ninguém valoriza o campeão estadual - perdê-los é sinônimo de crise - por que, se não tem valor?

Nesse momento temos milhões de brasileiros frustrados porque seus respectivos times perderam algo que segundo eles mesmos não tem valor, tendo como único consolo a desgraça alheia de seus rivais, que também viram suas possibilidades de vencer algo sem valor acabarem.[complicado?] Em suma o sentimento é o seguinte: não vale nada, mas se não é meu, não pode ser do meu adversário. 

Mas as "curiosidades" não param por aí: além do fato de você entrar em crise por algo que não vale nada, o fracasso na tentativa de conquista desse nada, aumenta a responsabilidade de conquistar o que realmente vale "tudo" - leia-se Libertadores para uns, Copa do Brasil para outros.

Podemos dizer então que a situação de Corinthians e Palmeiras é a seguinte: eles não perderam nada, e justamente por isso estão intimados a ganhar o "tudo".

Pensando bem, essa confusão "sentimental" que envolve o futebol faz todo o sentido, afinal, um esporte que está longe de ser uma ciência exata, não poderia ser composto por lógica e racionalidade.

19 de abr. de 2012

O vilão da história

O Milan ja havia chego perto - não fosse a lambança do soprador de apito e esse post poderia ter sido escrito a algumas semanas atrás. Hoje o Chelsea, com um sistema de marcação absolutamente perfeito - 4-5-1 jogando em uma faixa de não mais do que 30 metros de campo em bloco - parou o um dos maiores times da história, comandado pelo melhor jogador do mundo.

Drogba marca o gol da vitória do Blues

A receita tem sido dada há algum tempo - diminuir o espaço de raciocínio de quem é capaz de desequilibrar em segundos -  a questão era alguém conseguir executá-la com eficiência.

É inevitável, tendência do ser humano: Na derrota começarão a surgir os "defeitos" em quem antes era "perfeito" ou ao menos flertava com a perfeição de maneira muito próxima. Dirão que faltou velocidade ao toque de bola catalão, que faltou verticalizar o jogo em determinados momentos, que sobrou preciosismo, e blá blá blá. A velha mania de não reconhecer os méritos alheios.

O Chelsea venceu ponto Venceu e nos trouxe de volta a realidade, tirou os amantes de futebol da "ilha da fantasia" catalã e provou que é possível. Venceu para o regozijo dos amantes dos esquemas táticos. A verdade é que Di Matteo armou um paredão em que Pep Guardiola foi incapaz de penetrar, e como um predador que espera por horas o momento certo de dar o bote, derrubou o "inderrubável" time espanhol.


É bem verdade que foram apenas os primeiros 90 minutos. Agora o Camp Nou e sua fanática torcida esperam o time inglês para o encontro decisivo, mas o fato é que o time inglês está bem perto de vencer a concorrência pelo papel de "vilão do futebol", o time responsável por quebrar o encanto e nos deixar órfãos de um time histórico. Com o Barcelona é assim, até na derrota, não deixa de ser o "mocinho" da história.

15 de abr. de 2012

Evolução[?]

A evolução do futebol é clara e evidente, em todos os segmentos que envolve o esporte: A filosofia de trabalho e métodos de praticá-lo; o profissionalismo na gestão de clubes e entidades ligadas ao esporte; publicidade e propaganda movimentando a economia mundial; tecnologia dos acessórios para potencializar o rendimento dos atletas; apenas para citar alguns pontos.


Entretanto a pergunta que fica é: Estamos evoluindo da maneira correta? Será que a medicina esportiva tem acompanhado o mesmo ritmo de evolução dos demais segmentos? Ou o corpo humano chegou ao limite da exigência de desempenho e começa a dar sinais de colapso? Qual o motivo de tantas mortes dentro de campo?

Piermario Morosini sendo socorrido invão

Mais um atleta perdeu a vida dentro de campo nesse fim de semana, o meia italiano Piermario Morosini do Livorno, time da segunda divisão do campeonato italiano, teve uma parada cardíaca e uma morte instantânea enquanto praticava um esporte que há alguns anos tinha as fraturas ósseas como "acontimentos mais graves" referente à saúde dos atletas.

O caso acontece apenas um mês depois do meia do Bolton, Fabrice Muamba, entrar em colapso durante a partida contra o Tottenham pela Copa da Inglaterra. O Coração do meia do time inglês ficou sem bater durante 78 minutos e por um milagre, dois dias depois seu coração já batia sem a ajuda de aparelhos. Um caso de exceção.

Fabrice Muamba entra em colapso na partida contra o Tottenham

Recentemente o meia Renato, do Flamengo foi mais um a descobrir um problema cardíaco depois de anos no futebol - não sou médico, por isso não posso falar sobre o assunto com autoridade - mas em algum ponto da evolução do futebol deixamos um fio solto para que tantos casos comecem a surgir.

Descaso e ambição também tem sua parcela de culpa por mortes como essa. Descaso por parte de federações e confederações que tratam as principais ligas e campeonatos do mundo com todo carinho no que diz respeito a publicidade e glamour, mas esquecem do mínimo de cuidado com os personagens principais - que aliás são so responsáveis por grande parte de seus lucros - ao não realizarem sequer exames médicos e cardíacos em seus atletas.


A ambição desmedida em busca de um maior desempenho dentro de campo é inversamente proporcional aos cuidados voltados para quem é mais exigido nessa busca: O corpo humano.

O futebol se transforma a cada temporada, e a cada ano todos os segmentos que o acompanham precisam se adaptar a uma nova realidade. O passado deve ser conservado, a história é linda, mas o futebol de hoje não pode ser tratado como o de ontem, exatamente por isso que Pelé é Pelé e Messi é Messi. Não cabem comparações, pois não se compara atletas que praticam esportes absolutamente distintos.

13 de abr. de 2012

Depois da tempestade...


A imensa maioria da população concorda que o problema do país está em quem detém o poder de mudar, ou não, as coisas. Dá-se poder a homens que pensam de maneira individual e esquecem o que realmente importa: O coletivo, o bem geral.

A questão no país é tão evidente que por vezes se estende e “faz escola” em outros segmentos da sociedade, e nem mesmo a maior paixão do brasileiro escapou a essas influências de pouco, ou nenhum, altruísmo.


Durante mais de 20 anos o futebol brasileiro foi comandado por um homem que se julgava dono do esporte e mais influente até mesmo do que o presidente da república. Ricardo Teixeira mandou, desmandou e apesar de o país ter conquistado diversos títulos mundiais em todas as categorias durante sua gestão e de ter trazido de volta ao país o evento esportivo mais importante do mundo, a Copa do Mundo de Futebol, ficou marcado mesmo pelos inúmeros escândalos de corrupção e manobras escusas que fizeram dele um homem com muitos adversários e poucos, mas influentes, aliados.

A saída de Teixeira do comando da CBF foi para muitos a extirpação de um cancêr do futebol, e o convite a Mário Jorge Lobo Zagallo para assumir a vice-presidência da CBF é a “bonança depois da tempestade”.


Não há ninguém melhor que o velho lobo para assumir a função. Zagallo ama o futebol e sobretudo a “amarelinha”, como gosta de chamar a camisa da seleção brasileira. Um homem que certamente colocará o bem do futebol nacional à frente de qualquer outro tipo de interesse. Zagallo é a dose de integridade, hombridade e honestidade que faltava ao comando do futebol brasileiro.