"Além dos sinais externos que denunciam - cabelos brancos, cabelo nenhum, rugas, barriga, essas indignidades - as gerações se reconhecem pelos jogadores de futebol que se têm na memória"

Luis Fernando Veríssimo

11 de set. de 2013

Metáfora da vida

Sempre fui antiquado no assunto futebol. Meu esquema tático perfeito será sempre o tradicional 4-4-2. Meus jogadores preferidos são os poucos capazes de aliar o futebol moderno ao máximo de classe e elegância – Zidane e Iniesta. E o sentimento se estende ao traje. Abomino os uniformes do futebol moderno, sacrificados em nome da saúde financeira das equipes.

Nome, número e escudo em uma camisa simples. Clássica – e não esqueça da gola polo – por favor.

Recuso-me a deixar o romantismo de lado, o mesmo romantismo que vez por outra não passa de eufemismo para “velho” - que seja. Ao menos costuma ser mais duradouro e racional do que a intempestiva paixão que corre na contra mão dos sentimentos “futebolísticos”.

Talvez seja essa a diferença quando se trata de time e seleção. Os sentimentos “clubísticos” são regidos pela irracionalidade dessa paixão, que acelera o coração e umedece os olhos ao menor sinal de reciprocidade. Não há paixão mais desgastante, porque ao contrário das demais, ela não é passageira, simplesmente se renova a cada encontro. Não existe paixão velha no relacionamento torcedor-time. As lembranças de outrora são capazes de emocionar, como se tivessem sido vividas ontem.

Já seleção é amor. Exige paciência e dedicação constantes. Relacionamento construído a base de confiança. Tijolinho por tijolinho. À longo prazo. Frágil como um castelo de cartas, desmorona em segundos, o que levou anos para ficar em pé. Apenas para a fragilidade se transformar em um incrível poder de superação, e começar tudo de novo. O ciclo sempre se renova. Experiências boas e ruins vão deixando marcas que o tempo transforma em lições e recordações lembradas com nostalgia, saudade e certa dose de lamentos.

É, o futebol as vezes tem o estranho hábito de ser metáfora da vida.

8 de jul. de 2013

#ironia #órfãos

A nau são paulina está a deriva novamente, mas ao contrário do que muitos pensam, não fazem poucos dias, e sim mais de seis  meses. A embarcação são paulina foi à pique quando a âncora que a mantinha em águas tranquilas se soltou e foi em direção ao outro lado do Atlântico. Lucas.

Poucos meses de ausência do camisa sete foram suficientes para a verdadeira realidade do time aparecer. Lucas era cortina de fumaça perfeita para manter a tranquilidade dos cartolas e ofuscar sua incompetência.

Ney Franco - Demitido depois de exatos 365 dias à frente do comando técnico do São Paulo

O escudo da diretoria se foi, deixou os cofres do clube cheios, e um time órfão dentro de campo. Procura-se nova proteção contra a massa insatisfeita. Alguém tem que pagar essa conta. Sobrou para Ney Franco. É bem verdade que o treinador tem boa parte da culpa, não soube administrar os egos dos jogadores, dentro e fora de campo, errou nas escolhas táticas, não soube dar padrão de jogo ao time, e tempo para tudo isso não faltou. Mas a diretoria também tem uma larga fatia desse bolo.

Lucas foi vendido ao PSG no meio do ano passado por mais de 100 milhões de reais, maior transferência da história do futebol brasileiro

A venda de Lucas foi anunciada seis meses antes do garoto de fato deixar o time. Com tempo, e dinheiro em caixa, para buscar um, ou até dois jogadores com características semelhantes para suprir sua ausência, a diretoria insistiu na contratação de um meia completamente diferente, com uma relação custo-benefício pra lá de duvidosa. E lá se foram quase 30 milhões de reais.

Seis meses depois, eliminado pela enésima vez na semi-final do campeonato estadual, humilhado nas oitavas-de-final da Libertadores, novamente por um time brasileiro, próximo de perder um título importante para um grande rival, o São Paulo chega ao clássico contra o Santos com o comando interino de Milton Cruz. E aí, mais uma vez, observamos a ironia esdrúxula que move o futebol.

A nau santista está em situação bem parecida com a tricolor, órfão de seu grande jogador, e com comando interino de Claúdio Oliveira. A diferença é que o interino da Vila Belmiro tapa o buraco deixado por Muricy Ramalho, o interino do Morumbi, guarda a vaga de Muricy Ramalho.

Mesmos caminhos, esperando chegar em lugares diferentes. Einstein previu.

E viva a falta de criatividade!

E não se espantem se São Paulo e Santos fizerem um grande jogo no Morumbi hoje, afinal, coerência e futebol, não andam de mãos dadas.

17 de jun. de 2013

Jogo de bola

O futebol é feito de movimentos simples - teoricamente. Não raro escuto alguém - que, ou não gosta de futebol ou é algum idealista revoltado com as cifras que circulam no esporte - dizer que é um absurdo fulano de tal ganhar milhões para correr e chutar uma bola. Portanto, simples.

Não vou entrar no mérito da questão, simplesmente partiremos do pressuposto de que de fato é simples. E entre os movimentos que compõe o jogo de bola, o mais simples deles é o passe. É o primeiro fundamento que o menino aprende na escolinha de futebol. O beabá, a base, o essencial para qualquer peladeiro jogar em um campo de terra batida.

E aí, você fatalmente vai pensar que pela simplicidade do fundamento, ele certamente não será suficiente para jogar em alto nível. Pequenos passes de três, quatro, cinco metros de distância não levam a lugar nenhum, que dirá, ao título do que quer seja. E aí você inventa, na tentativa de aperfeiçoar e aumentar a qualidade do jogo.

E na busca pelo diferencial, perde-se a essência. Esquece-se que futebol é jogo de bola, é jogo coletivo, que um gol tem o mesmo valor para os onze que vestem a mesma camisa.


É, o futebol, de verdade, é mesmo simples. Complicado é vencer quem faz o simples com eficiência.

28 de mai. de 2013

Retrato de um país falido

Tudo que gira ao seu redor é exagerado, na proporção do seu absurdo talento para jogar futebol.

Elogios, críticas, cobranças exacerbadas, muitas vezes incompatíveis com seus 21 anos, e como não poderia deixar de ser, sua despedida. Está em todos os jornais do mundo. E como em todo assunto de grande repercussão, há milhões de "entendedores" donos da verdade.

Neymar é o que o futebol tem de melhor a oferecer e sua ida para a Europa era natural e inevitável já que o melhor do futebol está lá. Vila Belmiro; Campeonato Paulista; Campeonato Brasileiro; Libertadores da América; "Grande jogos" com 30 mil torcedores. Tudo isso se tornou pequeno. O Brasil se tornou pequeno. O futebol brasileiro não comporta jogadores do porte de Neymar. E o último ano do jogador em solo brasileiro é o retrato e a prova da falência do futebol nacional. Times não se sustentam por mais de duas temporadas. A baixa qualidade e competitividade não mantém o ímpeto dos grandes jogadores. Soma-se a isso cobranças exageradas e absurdas que aceleraram sua vontade de deixar o país. Filme repetido por aqui.

Os invejosos de plantão já começaram a elaborar suas teorias de fracassos: "Neymar e Messi não cabem no mesmo time", "Cai-cai na Europa não tem vez", "Carrega muito a bola para jogar no Barcelona", blá blá blá. Neymar acaba de se transferir para o melhor time do mundo. Vai jogar ao lado do melhor jogador do mundo. 90 mil pessoas vão lotar o maior estádio da Europa apenas para recebê-lo. Se ele não deu certo, tenha pena dos demais.

O sucesso de Neymar no futebol europeu é, de novo, inevitável. Mas mesmo depois de consumado, os cornetas de plantão sempre terão seus argumentos contrários. Novidade mesmo, será quando esses mesmos cornetas tirarem o alvo das costas de nossos craques e se preocuparem em cobrar respostas que realmente importam, como por exemplo, alguém explica, como dois times de uma país falido, Real Madrid e Barcelona, chegam ao Brasil, 7° economia do mundo, com um caminhão de dinheiro para disputar o melhor jogador que revelamos nas últimas décadas, enquanto assistimos sentados, do alto de nossa empáfia falida, sem ter condições de competir com eles? Como Real Madrid e Barcelona, times de um país menor que vários estados brasileiros, tem mais dinheiro e infraestrutura do que Flamengo e Corinthians que possuem milhões de torcedores a mais? Como um time de um país onde a taxa de desemprego está pra lá de muito alta tem média de público de 70, 80 mil pessoas por jogo enquanto nós colocamos, quando muito, 30 mil torcedores no estádio?

Tem alguma coisa muito errada no "país do futebol".

26 de mai. de 2013

Pra brasileiro ver

Estamos longe, muito longe de ser o país do futebol. Não se trata de complexo de vira-latas - muito pelo contrário, até porque os estádios inaugurados por aqui nas últimas semanas, embora não possa afirmar presencialmente, não parecem dever nada aos europeus, salvo alguns problemas pontuais, normais em qualquer início de trabalho, e outros provocados exclusivamente pela falta de respeito brasileira - e sim de um fato facilmente percebido a qualquer um com o mínimo de percepção que teve o prazer de assistir a final da Champions League 2013.

Borussia Dortmund e Bayern de Munique não fizeram um grande jogo, nem tática, nem emocionalmente. Mas a partida entre os rivais alemães foi uma aula de futebol em todos os sentidos.

Podemos começar pelo o que é notado no primeiro olhar: o jogo dentro de campo. Dois times adeptos do futebol moderno. Não havia um único jogador em campo que não soubesse o que fazer com a bola nos pés. Apenas criadores de jogadas. Ocupação correta de espaços como única forma de marcação. Dois times que trabalham em bloco e apenas dispersam suas linhas no momento do contra ataque. A diferença entre eles ficou por conta da qualidade técnica individual, exatamente o que decidiu o jogo a favor dos bávaros. Que falta fez Mario Gotze!

Aula de infraestrutura. A cada ano a UEFA ensina o mundo como se organiza um campeonato de futebol. Estádios impecáveis, do gramado a arquibancada. Pontualidade. Arbitragens criteriosas - erros em uma média aceitável, ou alguém contabiliza erros e mais erros na CL como acontece por aqui na Libertadores por exemplo? - Conforto, acessibilidade e respeito aos torcedores e imprensa. Pra dizer o mínimo.

Aula de exibição. Imagens de transmissão espetaculares, de ângulos incríveis, e replays pontuais, sem cortar momentos importantes do jogo.

Aula de calendário. Sem sobrepor competições entre sí - ao ponto de prejudicar o desempenho dos clubes - ou com datas FIFA, e com o cuidado e o carinho de colocar o jogo mais importante da temporada como gran finale.

Mantivemos por muito tempo - e ainda mantemos - o título de país do futebol não apenas pelos títulos, mas pela paixão que segundo muitos, não se encontra em nenhum outro lugar do mundo. Será? ...

SUA TORCIDA FAZ ISSO?
Torcedores brasileiros se gabam de estar com o time mesmo na derrota. De aplaudirem ainda em campo depois de uma eliminação. Paixão que está acima da vitória. Acabamos de ver o mesmo partindo da torcida que foi derrotada pelo maior rival na competição de clubes mais importante do mundo!

Confesso que posso ser suspeito para falar, sempre fui fã de carteirinha do futebol europeu, quem me conhece sabe, em especial do inglês e do alemão. Se você não acompanha, tente antes de me crucificar. Premier e Bundesliga juntas, colocam por terra qualquer argumento contrário: estamos longe, muito longe de ser o que pensamos que somos.

8 de mai. de 2013

Crônica do pensamento alheio

O som ao redor era um misto de excitação e apreensão. Quantos passos seriam necessários para percorrer aqueles 60 metros? Aquela altura, o esforço da caminhada era descomunal. As pernas carregavam o cansaço físico e o peso da responsabilidade. A esperança de milhões no sucesso da curta empreitada; e de outros tantos milhões no fracasso.

Resume-se em um curto espaço de tempo onde o simples se complica e o óbvio se cerca de dúvidas. Em que todos os caminhos levam ao mesmo destino. Glória e fracasso separados por um linha tênue, feita de alguns centímetros de cal.

Um turbilhão de pensamentos o acompanha enquanto ele parece caminhar como um réu condenado prestes a iniciar sua pena. Desejara, como tantos outros, aquela glória sem correr o risco do fracasso iminente.

De repente se deu conta de que era justamente a forma como lidava com o fracasso que o rondava que lhe colocaria no hall daqueles que encontraram a glória no fim da caminhada. Descobriu que a derrota começa quando o medo de encontrá-la supera o desejo da conquista.


25 de abr. de 2013

1/1/1

Hoje é o primeiro dia de um novo mandato no futebol mundial. A referência mudou de endereço. Trocou, sem cerimônia, a paella pelo chucrute.

As vezes imagino o futebol como uma madame nascida em berço de ouro; alguém genioso, impositor de suas vontades, irônico e que não aceita desaforo. Promove situações e encontros de invejar qualquer script hollywoodiano.

Pep Guardiola, o mentor da maior revolução futebolística do século, responsável por colocar fim a própria criação - não se iluda, Jupp Heynckes não é o responsável pelo futebol apresentado pelo Bayern de Munique.

E essa madame é mesmo ingrata. Mal se lembrou das vezes que o clube catalão nos brindou com sua arte nos últimos anos. 4x0. Incontestável e sem piedade. Com requintes de crueldade ao melhor jogador do mundo.

Madame sarcástica, que no dia seguinte aprontou de novo, e calou aqueles que um dia antes se deliciavam com a desgraça alheia.

Não tem mesmo coração essa madame metida a besta. Substitui uma geração inteira por outra em 180 minutos.

Era uma vez espanhois, argentinos e portugueses que dominavam o mundo. Um certo dia, eles trombaram com alemães, holandeses, franceses, a até poloneses, e... Bom, o mundo mudou de pés.

8 de abr. de 2013

"Um por todos, e todos por um"

A filosofia de Athos, Porthos e Aramis, mais conhecidos como "Os Três Mosqueteiros", parece, a cada dia que passa, ser a receita mais óbvia para o sucesso de um time de futebol.

Um time sobrevive de seus talentos individuais, mas vive primordialmente de seu coletivo, ou melhor, da união de seu coletivo.

Aquele que é tido por muitos - inclusive por quem vos escreve - como um dos maiores times da história do futebol é exemplo claro disso. Encantou o mundo com um futebol absolutamente coletivo e generoso, e nas vezes que isso não foi suficiente, viu o talento de um gênio, um tal de Messi, resolver a questão.

Mas a questão é entender que "jogo coletivo" é mais do que entrosamento dentro de campo. Jogo coletivo começa no banco de reservas, na figura individual do treinador. Nasce na filosofia do líder e vive da credibilidade que essa filosofia é capaz de conquistar entre os comandados. Em suma, a diferença do coletivo que vence para o que perde, está na crença dos jogadores naquilo que estão fazendo. Se todos acreditam no que seu treinador diz, a união faz a força, caso contrário, não há força de elenco que sobreviva a desunião causada pela descrença. Cenário fácil de notar nos vizinhos São Paulo e Palmeiras.

Líder do Campeonato Paulista com um jogo a menos, mesmo jogando a maioria das partidas com o time considerado reserva. Em crise, porque o principal objetivo da temporada virou "missão impossível". Esse é o São Paulo, um dos melhores elencos do país, que não funciona por não acreditar em seu comando.

Um time limitado, instável, que sofre com resultados negativos, expressivos, constantemente, e principalmente com a má administração fora de campo. Só que não. Depois de mais um capítulo trágico, a tal má administração deu o primeiro sinal de amadurecimento: consciência de que o trabalho que vem sendo feito, visa um objetivo a longo prazo. Deu continuidade ao trabalho de um líder que provou ter a fé de seus comandados. Aula de futebol coletivo, união. Recompensa inevitável. Esse é o Palmeiras.

Futebol não é uma ciência exata. Impossível de prever. Na semana que vem o post pode ser sobre a heróica classificação são paulina e a previsível eliminação palmeirense - leia-se Libertadores da América. O fato é que o futebol tem seu aspecto religioso, é preciso acreditar no que é pregado para que os resultados que se esperam aconteçam.

18 de fev. de 2013

Lógica; Futebol; Inovação; Corinthians; Palmeiras...

Lógica e futebol não têm lá um relacionamento muito afetuoso. Uma tenta se impor, o outro insiste em contrariar, e ambos têm suas vantagens e desvatangens.

Se você tem o melhor time, a lógica te diz, por motivos óbvios, que você tem mais chances de ganhar. O futebol te diz que se você quiser ganhar, terá que fazer por merecer. Nome não ganha jogo. Se você tem um padrão de jogo definido e jogadores que se conhecem, a lógica diz que você tem mais chances de ganhar. O futebol te obriga a colocar a teoria em prática a cada novo jogo. Papel, campo... Se seu time conquistou tudo que era possível, a lógica te diz que ele é o melhor, o "time a ser batido". O futebol insiste em tratá-lo apenas como "mais um", que será abatido ao menor descuido.

As principais vantagens de ser o número 1 são sem dúvida as conquistas. Status. Reconhecimento. Soberania diante dos adversários. Respeito. Temor. Vantagens que são imediatamente combatidas pela principal desvantagem: estar em evidência - prego que se destaca é martelado.

O número 1 tem sempre a obrigação de se reinventar. Inovar. A velha história: a parte mais difícil não é chegar ao topo, mas se manter. Teoria conhecida por todos. Experiência vivida apenas por aqueles que conquistam algo.

O Corinthians chegou, está lá. Sabe bem o caminho que trilhou e o que fez para alcançar o tão sonhado topo. O problema é que todos aqueles que almejam seu lugar também sabem e começam a criar antídotos para combatê-lo. Em um mundo competitivo como o do futebol, reinventar-se é imperativo, para aqueles que desejam voltar, e para aqueles que não desejam sair de onde estão.

13 de fev. de 2013

ATENÇÃO!

Analisar o trabalho de um treinador depois de uma partida não faz o menor sentido. Não faria, se o treinador em questão não fosse Luiz Felipe Scolari.

Fazem dez anos, o futebol mudou. A realidade é outra. É um novo trabalho. Remeter ao passado de fato soa um tanto incoerente, ou soaria, se esse passado não fosse exatamente o motivo da existência do trabalho atual.

Felipão voltou ao comando da seleção por tudo que representa, não por seus trabalhos recentes. Voltou para resgatar uma identidade que havia se perdido e acima de tudo o respeito alheio pela camisa cinco vezes campeã mundial que se perdeu na mão de um "desconhecido".

Fazem dez anos, o futebol mudou. A realidade é outra. Adaptar-se é imperativo. A lista de convocados anunciava que a adaptação aconteceria. Dante e Miranda são a prova de que Felipão está atento a tudo que acontece no futebol. Dante é o melhor zagueiro da Bundesliga ao lado de Mark Hummels do Borussia Dortmund e Miranda vive a melhor fase da carreira no vice-líder da liga das estrelas, Atlético de Madrid. Ramires, Paulinho, Arouca e Hernânes, quatro volantes que saem para o jogo com uma qualidade acima da média, a prova de que Felipão não pretendia armar um ferrolho para golear por 1x0. Uma lista que prima pela qualidade técnica, dos atacantes aos defensores, a prova de que Felipão estava em 2013, e não em 2002.

Mas assim como seu antecessor, Mano Menezes, Felipão não conseguiu praticar a teoria. O papel não entrou em campo. Culpa do treinador, até a página três, claro. Teoria repetida. Problemas repetidos. E Felipão já acena repetir os mesmos erros da antiga administração: mudar a teoria na primeira tentativa fracassada.

O treinador prometeu rever a situação de Ramires e Paulinho, porque ambos os volantes saem para o jogo e se apresentam ao ataque. A ideia é sacar um dos dois, avançar o zagueiro David Luis para jogar de cabeça de área a frente da zaga que seria formada por Thiago Silva e Dante - como Edmílson na seleção de 2002 - Em poucas palavras: um cão de guarda no meio campo para dar liberdade ao outro volante para ir a frente. Porque aparentemente não é possível jogar com dois volantes que não estão em campo apenas para destruir as jogadas, mas que constroem situações de ataque e têm muita qualidade no passe.

Essa é a posição do atual treinador da seleção brasileira, e talvez seja a contra prova de que ele não está tão atento assim ao que ocorre no mundo do futebol, afinal, um certo time azul grená provou recentemente que o futebol é feito com construtores, da defesa ao ataque.

7 de jan. de 2013

A escolha do melhor do mundo

Amanhã teremos a escolha do melhor jogador do mundo. Andrés Iniesta, Cristiano Ronaldo e Lionel Messi são os indicados. Meu voto é do argentino. Embora seja um admirador do futebol dos outros dois, especialmente de Iniesta, eles tiveram o maldito azar, ou abençoada sorte, de nascerem na mesma época Messi.

Mas o assunto me levou a outra reflexão: Copa do Mundo de 2014. Explico. É impossível afirmar que Messi levará o prêmio amanhã, tampouco que chegará a Copa como melhor jogador do mundo, ao menos oficialmente, entretanto é certo e seguro que estará por aqui para a disputa do mundial, e começar a se preocupar com ele é, além de altamente recomendável, essencial, se quisermos evitar que ele levante a taça  por aqui.

Messi foi o protagonista, dentro de campo, de um time que revolucionou o futebol de uma forma que não era vista desde a Laranja Mecânica de Johan Cruyff, em 1974. Inovou de uma maneira tão humilhante que os adversários não são sequer capazes de imitá-lo. O mentor da maior revolução futebolística do século? Pep Guardiola.

Extraoficialmente, Pep Guardiola já tinha aceitado dirigir a seleção. Em 4 anos a frente do Barcelona, conquistou 3 campeonatos espanhois, 2 Copas da Espanha, 3 Supercopas, 2 Ligas dos Campeões e 2 Mundiais de Clubes
A frente de um time de outro mundo, com um camisa 10 de outra galáxia, Pep venceu mais de 70% de seus jogos. Frequentemente com mais de 70% de posse de bola. Frente a times razoáveis como Chelsea, Milan, Real Madrid, Manchester United.

Nada contra Felipão, mas perdemos nossa melhor chance de vacina "anti-Messi" ao ignorarmos o nome de Pep Guardiola para o comando da seleção brasileira. E corremos o risco de ter perdido o bonde da história.
José Maria Marin - Presidente da Confederação Brasileira de Futebol
Contra os argumentos usados por José Maria Marin para justificar, apenas uma palavra: Coerência - ou falta dela. Segundo o "entendedor" de futebol que comanda a CBF, Pep não conhece os jogadores brasileiros. Como não se boa parte da seleção joga na Europa? E ainda que tenhamos atualmente uma seleção bem "brasileira", de quanto tempo o treinador precisaria para conhecê-los? Pep nunca dirigiu uma seleção. O mesmo Felipão escolhido para voltar ao comando da seleção, jamais esteve a frente de um selecionado nacional antes da Copa de 2002.

No último jogo da seleção brasileira em 2012, contra a Colômbia, 7 dos 14 jogadores que atuaram já jogaram ou enfrentaram Pep Guardiola por seus clubes
O terceiro argumento é tão hipócrita que sequer merece contestação. Pep é estrangeiro. Já dizia o célebre Samuel Johnson: "O nacionalismo é o último refúgio dos canalhas". Quantas partidas o seleção faz por ano dentro e fora do país? Das empresas que controlam e financiam a seleção brasileira, quantas são nacionais? Fornecemos o que temos de melhor dentro dos campos para os clubes europeus. Nossos craques desfilam sua habilidade para gringo ver, e pagar. Controladores estrangeiros. Mas o treinador precisa ser brasileiro. Isso me soa a tão tradicional arrogância brasileira. Nos recusamos a aprender o que achamos que ninguém faz melhor do que nós.

Cria-se uma cortina de fumaça. Muda-se alguma coisa para que tudo continue igual e seja aceito pela maioria alienada. Escolhemos um passado, que teve seus méritos, mas que passou, em detrimento de um futuro inovador. Um futuro que curiosamente nos levaria de volta ao passado, quando o futebol da seleção brasileira era a referência e a inspiração que todos os outros tentavam imitar.

Não temos o melhor do mundo dentro dos campos. Perdemos a chance de ter o melhor do mundo fora deles.