"Além dos sinais externos que denunciam - cabelos brancos, cabelo nenhum, rugas, barriga, essas indignidades - as gerações se reconhecem pelos jogadores de futebol que se têm na memória"

Luis Fernando Veríssimo

11 de jun. de 2015

Herois e vilões

Se você é daqueles que acredita em destino, as finais da NBA são o factual do momento. Quando Kyrie Irving saiu machucado na prorrogação do primeiro jogo das finais o pensamento de todos os torcedores do Cleveland Cavaliers certamente foi o mesmo: "complicou o que já não era nada fácil".

A qualidade de Irving é indiscutível. Titular em qualquer franquia da NBA, é quase insubstituível na equipe. Quase.

Matthew Dellavedova é o cara do momento em Ohio. Premiado - com o que parecia um fardo - foi o escolhido para substituir o camisa 2 dos Cavs. E apesar da perda ofensiva que a equipe sofre com a troca, Dellavedova fez o que nenhum outro marcador da NBA conseguira até então: parar Stephen Curry.

Matthew Dellavedova marcando Stephen Curry na segunda partida das finais
A camisa 8 dos Cavs está esgotada nas lojas oficias da franquia depois dessa partida

Na segunda partida das finais o camisa 30 dos Warriors errou 13 dos 15 arremessos de três que tentou. Números absolutamente impensáveis se tratando de Stephen Curry. O mesmo Curry que durante a temporada regular teve mais de 40% de aproveitamento nos chutes de longa distância. E os únicos dois arremessos que caíram foram fora da marcação do australiano, ou seja, enquanto Dellavedova foi o marcador de Curry, ele não pontou.

Era tudo que LeBron James precisava para lembrar a todos porque está na quinta final consecutiva da liga e porque é o centro de uma das maiores discussões da atual NBA, quando comparado a nomes como Michael Jordan e Magic Johnson. Com um triple-double na segunda partida e 40 pontos na terceira, ajudou o Cavaliers a não só passar na frente nas finais como ainda quebrar o mando de quadra dos Warriors. Já são 123 pontos nos três primeiros jogos das finais, recorde da liga.

Se quiserem conquistar o anel pela primeira vez desde 1975, os Warriors terão que reverter o mando de quadra novamente, ou seja, vencer pelo menos uma partida na Quicken Loans Arena, diante do novo xodó da torcida de Ohio e de um LeBron James disposto a provar que os Cavs não precisam de muito mais para conquistar a liga.

As perguntas e desconfianças que antes das finais cercavam o desfalcado Cleveland Cavaliers, agora pairam sobre o inseguro Golden State Warriors. A história do esporte é recheada de superações de herois que parecem mortos e coadjuvantes que assumem o papel de protagonistas quando menos se espera. Mas para cada heroi que a história cria, há um vilão. Com esta final não será diferente, resta saber quem vai assumir qual papel.

Melhores momentos finais - Jogo 2


Melhores momentos finais - Jogo 3

7 de jun. de 2015

A tempo das finais

Sem mais delongas sobre a razão de o blog ter permanecido um bom tempo inativo, o que interessa é: voltamos a tempo dos pitacos das finais da NBA.

Apesar da temporada espetacular de James Harden; apesar dos incríveis dez triple-doubles de Russel Westbrook; apesar de LeBron James; apesar da surpreendente campanha do Atlanta Hawks; apesar da histórica campanha do Los Angeles Clippers; apesar dos Clippers terem o ataque sensação dos playoffs com Blake Griffin e DeAndre Jordan; apesar de tantos outros pesares da temporada regular e dos playoffs, o Golden State Warriors é o melhor time da liga, e Stephen Curry é, de longe, o MVP, não apenas da temporada regular, como já ficou provado, mas também dos playoffs.

Stephen Curry

Ao contrário dos anos anteriores, as finais de conferência dessa temporada consagraram o estilo "chuta-chuta". Atlanta Hawks (28,9 tentativas de 3 pontos por jogo nos playoffs), Houston Rockets (28,5) e Cleveland Cavaliers (28,4). A frente deles, exatamente o outro finalista, Golde State Warriors com os "Splash Brothers" Stephen Curry e Klay Thompson, com 29,9 arremessos de três pontos por partida. A franquia da Califórnia porém é a única que tem bom aproveitamento, com 38,5% das bolas convertidas. A espetacular campanha de 67 vitórias e 15 derrotas na temporada regular e o apelido "Splash Brothers" se deram justamente pelo aproveitamento nos chutes de três.

Os "Splash Brothers" Klay Thompson e Stephen Curry

E os números de Curry realmente impressionam. SC foi o oitavo maior pontuador da temporada regular, com médias de 23,8 pontos, 7,7 assistências, 4,3 rebotes e 2,0 roubos em 32,7 minutos jogados. Converteu 48,7% das tentativas dos chutes de curta e média distância e alcançou 44,3% nas bolas de três. Além disso, aproveitou 91,4% dos lances livres que arremessou e atuou em 80 dos 82 jogos do ano.

Entretanto, apesar das estatísticas e os números terem um peso grande na hora de escrever a história da NBA, de nada valerá se ao final da temporada não vier o anel, e entre os Splash Brothers e o título, está um tal de LeBron James.

Vale lembrar que as finais já começaram e os Warriors já abriram vantagem de 1x0. Vitória por 108 a 100 com 26 pontos de Curry. LeBron James dispensa apresentações, mas o Cleveland Cavaliers das finais, nem tanto. Em uma olhada rápida, o mais desatento pode não reconhecer o time, isso porque James é o único do quinteto titular que está a disposição.

LeBron James está disputando a quinta final de liga seguida

No começo da temporada regular o time titular era Kyrie Irving, LeBron James, Dion Waiters, Kevin Love e Anderson Varejão. Mas ainda no início do ano o brasileiro rompeu o tendão de aquíles e abandonou a temporada. Apesar da baixa, o time de video game montado pelos Cavs engrenou na reta final e foi aos playoffs, mas as classificações vieram a um alto preço. O trio de ouro da equipe começou a se desfazer quando Kevin Love se machucou na quarta partida contra o Boston Celtics na primeira rodada da pós temporada. Agora, Kyrie Irving, que já havia desfalcado o time na final da conferência contra os Hawks deixou o primeiro jogo da final para passar por cirurgia no joelho, deixando como primeiras opções a David Blatt, LeBron, Dellavedova, Shumpert, Mozgov e Thompson.

A história da NBA é cheia de exemplos de jogadores absolutamente acima da média que fracassaram e tiveram sucesso "sozinhos" em quadra. Michael Jordan precisou perder três finais de liga para entender que precisava jogar para o time, Kobe Bryant também viu o anel ir embora diante do maior rival por excesso de individualidade, Larry Bird - possuía sem dúvida um grande time ao seu lado - mas foi o líder da franquia mais vitoriosa da história da liga por mais de uma década. Que LeBron James é acima da média, é inegável - cabe discussão se está no patamar dos citados. Resta saber se será capaz de levar os Cavs "sozinho" ao tão sonhado título da liga.


Melhores momentos do primeiro jogo das finais


Edição com melhores momentos de Stephen Curry na temporada - vale a pena conferir a categoria do MVP da NBA

Para a glória

Já houve uma época em que o principal lazer do homem era assistir outros homens lutarem até a morte. Homens que entravam em uma arena sabendo que apenas um sairia, com vida. Época em que a glória da vitória era ofuscada pelo prêmio maior, a vida. Séculos depois o conceito de diversão do homem permanece o mesmo, ao menos na essência. Embora não haja mais sacrifício de vida - ufa - a glória continua sendo um prêmio singular, ainda que para conquistá-la as vezes seja preciso trabalho em equipe. Um prêmio para quem demonstra a maior das virtudes: fé.

Mais do que talento ou capacidade técnica para se conquistar um objetivo, é preciso, antes de mais nada, acreditar nele. Fé é inerente a vitória. E não digo fé em Deus ou qualquer outra divindade - embora seja cristão - mas fé na própria capacidade de conquistar o que quer que seja. Exatamente o que faltou a Juventus hoje. Na linguagem do boleiro "dava pra jogar mais", fato comprovado nos primeiros quinze minutos do segundo tempo.

Há quem diga no futebol que um gol nos primeiros instantes de partida muda a história que já estava escrita. Fato. O lindo gol do Barcelona logo aos três minutos da primeira etapa certamente jogou por terra tudo que Massimiliano Allegri havia planejado para sua equipe. Se os planos para a partida desapareceram, a Vecchia Signora demonstrou a maior virtude do "mais fraco": auto controle. Apesar da derrota parcial, o time não se desesperou nem se desorganizou em campo. Não criou chances, mas também não correu riscos. Paciência por uma bola. Virtude válida, mas insuficiente para quem almeja a glória - ainda mais na derrota.

Derrota que ameaçou ir embora da mesma maneira como chegou: com um gol em um momento chave da partida. Por dez minutos realmente parecia que a história seria reescrita. O tal "auto controle" costuma ser o "calcanhar de Aquíles" de um favorito quando ele percebe que o favoritismo não está se confirmando, e por pouco a Juventus não se aproveitou disso.

Mas se por alguns instantes faltou auto controle ao mais forte, sobrou convicção. Mesmo nos momentos em que se desorganizou e quase pôs tudo a perder, o Barcelona sabia que era melhor, e jogou com isso em mente. Sem soberba, com respeito, e com convicção de que estava ali por razões muito claras: melhor time, melhor ataque, melhores jogadores. A glória era questão de tempo.

O Barcelona acreditou, a Juventus, mesmo após a bela campanha que fez, hesitou, e pagou o preço, no dia em que o futebol nos ensinou que virtudes e defeitos, como convicção, soberba, fé e descrença, são separados por uma linha tênue, chamada glória.