"Além dos sinais externos que denunciam - cabelos brancos, cabelo nenhum, rugas, barriga, essas indignidades - as gerações se reconhecem pelos jogadores de futebol que se têm na memória"

Luis Fernando Veríssimo

30 de jul. de 2011

Hipocrisia sem limites


Nunca fui um defensor do Kléber, pelo contrário, embora até aprecie seu futebol, não gosto da postura do jogador dentro - onde muitas vezes demonstra completo despreparo emocional para um jogador que é considerado líder de seu time - e fora de campo - onde "nunca faz nada" mas está sempre envolto em polêmicas, seja com treinador, diretoria ou companheiros de profissão, até mesmo por redes sociais.

Porém, levá-lo a julgamento por falta de fair play é ridículo, um caso claro de dois pesos e duas medidas. Onde está o fair play quando o jogo é paralisado com seu time no ataque e a bola é devolvida no seu goleiro ? Onde está o fair play quando jogadores simulam pênalts inexistentes ? Onde está o fair play quando jogadores simulam contusões para esfriar a partida, catimbar, provocar ? Onde estão os julgamentos e punições ?

Só se vai a julgamento por violação de leis e regras, fair play não está na regra.

Se Kléber quebrou o tal código de ética, não foi o primeiro nem será o último, mas em um país hipócrita onde a ética é inerente a conveniência dos fatos, conviveremos sempre com dois pesos e duas medidas.


28 de jul. de 2011

Jogos que contarei aos meus filhos#3 Santos 4x5 Flamengo 27/07/2011

Um craque contestado, "mordido", louco para - mesmo que o próprio jamais admita tal sentimento - dar um cala boca nas críticas recentes.

Um gênio - comprovado - que segundo a moda do futebol moderno - que este escriba, com perdão da expressão chula, acha uma "tosquidão" sem tamanaho - está recuperando a alegria de jogar.


Como "coadjuvantes" simplesmente o time campeão continental e o time que menos vezes perdeu no temporada 2011 do futebol brasileiro.

Resultado: um espetáculo digno de oscar.

Neymar x Ronaldinho Gaúcho, os dois últimos nomes que surgiram no país nos últimos anos que traduzem da forma mais pura a essência do futebol brasileiro, se encontraram, fizeram arte, e proporcionaram uma noite mágica aos amantes do futebol.

Curiosamente esse é o tipo de post em que não gosto de me alongar, pelo simples fato de que é impossível passar ao leitor que perdeu a partida o que verdadeiramente aconteceu em campo apenas com palavras, e evidentemente, quem viu não precisa de explicação.

Jogo épico. Clichê, mas que exprimi bem a partida de ontem na Vila Belmiro, que certamente entrou para a história do Campeonato Brasileiro.

Para minha alegria - e claro dos meus filhos - eu vi, está na lembranças deste boleiro que aqui escreve, o dia em que o futebol arte resolveu desfilar no tapete verde; o dia em que resolvemos usar nossa genialidade para brincar de fazer gol e que, que me perdoem goleiros e defensores, esquecemos da parte chata do futebol: defender; o dia em que - surpreendam-se - treinadores escalaram o que de melhor tinham ofensivamente e simplesmente deixaram fluir; a noite em que o futebol nos brindou, talvez em gratidão por dias atrás ter sido salvo, ainda que não por nossas mãos, e nos lembrou o verdadeiro motivo de nosso amor, o único, nessa terra, que nunca deixará de ser correspondido.


25 de jul. de 2011

Renascimento que vem do berço

Eu, você leitor que acompanha esse blog, que certamente o faz por gostar de futebol, boleiros de todo o continente, admiradores de futebol por todo o mundo e o mais importante, o próprio futebol, devemos respirar aliviados e agradecidos pelo título celeste na Copa América.

Sentei em frente a televisão hoje às quatro horas da tarde aflito e torcendo como há tempos não fazia nem mesmo por meu clube de coração. Qualquer resultado diferente de título uruguaio nos noventa minutos seria uma derrota não apenas da Celeste, mas do jogo de futebol. Chamem o que os paraguaios praticam de qualquer coisa, menos de futebol.

Queiramos nós ou não, qualquer time campeão, ainda que utilize como filosofia de trabalho o anti futebol - porque é isso que fez o Paraguai nessa Copa América - ou qualquer outro método pouco admirado pela grande maioria, sempre gerará uma tendência no futebol, ao menos local; "Ora, se deu certo com eles, por que não conosco ?"

Oscar Tabárez

O título uruguaio trará a tendência e a influência correta; a de um trabalho sério de reformulação que vem desde as categorias de base, iniciado em 2006 e coordenado pelo próprio treinador da seleção principal, Oscar Tabárez, que exige até mesmo que os garotos estejam na escola; a de um time extremamente organizado em campo que apresenta a mescla perfeita entre "operários" e "craques"; de um time que demonstra absoluta entrega em campo e que com tal entrega exibi uma sintonia perfeita entre time e torcida; exemplo de raça, hombridade e sede de vitória.

Estamos presenciando o renascimento daquela que foi a primeira grande força do futebol na América do Sul e grande anfitriã do esporte no continente, que com suas exibições pelo velho continente no começo do século 20 conquistou o respeito e consideração que o futebol sulamericano possui hoje. Bicampeã olímpica 1924/1928, bicampeã do mundo 1930/1950, país sede da primeira Copa do Mundo e os responsáveis pela maior derrota da história do futebol brasileiro. Feitos e glórias não faltam a Celeste Olímpica.

Diego Forlán

Renascimento que começou a ser claramente notado na Copa do Mundo de 2010 com o quarto lugar, sendo a seleção sulamericana mais bem posicionada, e o prêmio de Diego Forlan como melhor jogador do mundial; passando pelo vice campeonato do mundial sub-17, que só comprova o ótimo trabalho feito na base, e que culminou agora, em um título absolutamente merecido que coroa uma geração que certamente está entre as mais importantes da história do futebol uruguaio, não pelos resultados, mas pelo resgate do futebol, da tradição e do orgulho de um país apaixonado pelo esporte bretão. Sem mencionar o Peñarol na final da Libertadores, na base da camisa, que só comprova que o renascimento abrange todo o futebol uruguaio. Tudo isso em um país de apenas 3 milhões de habitantes.


Sob o comando de Diego Forlán - craque - e Suárez - que está sem dúvida entre os grandes centroavantes do futebol atual - o Uruguai é agora o maior campeão da Copa América com 15 títulos.

Ode ao futebol, que nas cores da maior força do continente provou que "aquilo" que eliminou o Brasil não prevalecerá jamais.



18 de jul. de 2011

O verdadeiro "x" da questão

O Brasil está eliminado da Copa América. Fato, irrevogável.

Por que está eliminado ?

Porque a equipe brasileira fez a bola transpassar o gol adversário menos vezes - ou nenhuma nesse caso - do que o próprio adversárioponto final

[A questão a ser discutida não são as substiruições tampouco os tiros de meta cobrados pelos jogadores na disputa de pênaltis]


O futebol tem dezenas de chavões para situações como essa: "Quem não faz toma" , "A bola pune" , "Nem sempre o melhor vence"... escolha o que melhor lhe convir para elaborar suas explicações. A partida de hoje é apenas mais um prova da velha máxima: Futebol é o único esporte coletivo onde o time que joga melhor pode sair de campo derrotado. Futebol é gol, simples assim.

A cultura do futebol - brasileiro - nos obrigará a começar o velho ritual de caça às bruxas. Culpados aparecerão por todos os lados na mesma proporção dos "se's", e a mesma Copa América que muitos apoucariam em caso de título, se transformará em motivo de crise e constestações. Filme diferente, mesmo final.

A opinião pública, na ausência do título e na ânsia por resultados, vai se esquecer do que realmente importa: a evolução, ou não, de um trabalho. Exatamente o ponto que devemos observar, e nos preocupar.

Antes de mais nada quero deixar claro que a competência do treinador da seleção brasileira não está em discussão - ao menos não para esse escriba - tampouco o talento de craques que chegaram a Argentina endeusados e que voltam contestados.


O que preocupa no time de Mano Menezes, e que aí sim devemos debater, discutir e ponderar, é exatamente a inaptidão de olharmos a seleção, depois de um ano de trabalho, em campo e darmos à ela o adjetivo "time".
Pode ser difícil para a arrogância brasileira admitir, mas nós não temos sequer um time, que dirá a melhor seleção do mundo. Temos um projeto de time, com uma capacidade e um potencial individual absolutamente fantástico, mas que simplesmente não evolui como equipe, não da a famosa liga.


Não me pergunte a razão, talvez nem mesmo o técnico saiba, futebol não é - graças a Deus - uma ciência exata, não há uma fórmula de sucesso; nele você simplesmente mistura todos os ingredientes pedidos na receita - jogadores selecionados a dedo - adiciona seu tempero pessoal - filosofia de trabalho - e simplesmente torce para dar certo e se prepara para o fracasso. Infelizmente, a seleção de Mano Menezes caminha a passos largos para a segunda opção.


12 de jul. de 2011

Noção zero

800 mil por mês para ter Vágner Love. Lincoln [que ganha mais que Kléber no Palmeiras(???)] para substituir Conca [que deixou o campeão brasileiro e o status de craque e ídolo no país do futebol para ir jogar na China por ? dinheiro]. Time oferecendo 347 zigalhões de reais, dólares, euros e sabe-se lá mais o quê para "repatriar" Tevez [será que também terá isenção fiscal e grana do contribuinte ?] " Alexis Sánchez fecha com Barcelona por R$ 88 milhões", mais cinco milhões e quem desembarcaria na Catalunha seria Neymar...

Definitivamente perdeu-se a noção do valor do dinheiro no futebol, ou, o dinheiro fez as pessoas perderem a noção. Fato é que a noção foi-se.

Enquanto isso no estadual de nações...

Em um súbito lampejo de "treinador de futebol" de Sergio Batista, Messi renasce para os hipócritas de plantão e "vira o melhor do mundo de novo".


9 de jul. de 2011

O gênio da vez

Um time que não cria, que aluga o meio de campo, fazendo um gênio ser condenado - por ignorantes - à vala comum dos meros coadjuvantes pela incompetência de terceiros(técnico) e pela necessidade de outros tantos venderem jornal.

Sergio Batista
 
A parte da culpa que cabe à Sergio Batista - além da péssima convocação e escalação, vulgo tudo - é simplesmente o fato de pensar que faria da Argentina um Barcelona em poucas semanas, com o agravante de utilizar jogadores fora de suas posições(sinto que perdi o capítulo da história recente do futebol em que Cambiasso virou meia de criação).

Equanto isso em Sete Lagoas...



A parte que cabe a imprensa fica por conta de manchetes do tipo "Messi não rende na seleção o que rende no clube" blábláblá...
Entendo que de Messi muito se espera, logo muito se cobra - algo natural construído por ele mesmo - mas quem foi que rendeu nesse time medíocre formado por Sergio Batista ? Onde esteve o grande Tevez que tantos reverenciam ?

Fato, é que os zagueiros da Barcelona têm mais qualidade de passe do que o meio campo argentino.

Quem foi que disse que a Argentina tem um "timaço" ? Tem no máximo um bom ataque, o que significa que os bons jogadores estão à frente de Messi em campo, logo, para a bola chegar ao camisa 10 com o mínimo de qualidade é - como diria minha vó - "um parto".

O gênio da vez
 
Mas então o Barcelona faz do Messi o que ele é ? Talvez, e ainda que seja, futebol é um esporte coletivo; Ou por acaso Pelé estava sozinho em 58 e 70 ? Zico estava sozinho no Flamengo dos anos 80 ? Pense nos grandes esquadrões dos quais você é capaz de se lembrar e me responda, alguém o carregou nas costas ? Claro que não, ou não teriam esse nome. Houveram grandes líderes, estrelas - gênios - principais que gozavam de grande companhia, Messi é - sem sombra de dúvida - o gênio da vez pontofinal

4 de jul. de 2011

Genéricos - efeito a longo prazo

Um time vencedor não se faz do dia para noite - você certamente já ouviu essa afirmação em um dos dois extremos da vida do seu time de coração, em um momento de glória como parte do louvor ao trabalho realizado ou como um pedido de paciência na explicação para uma crise.

Fato é que não importa o contexto, a afirmação procede - ainda que se tente aplicar uma fórmula reconhecidamente bem sucedida - como nos mostraram brasileiros e argentinos em suas estreias frustrantes na Copa América.

Sérgio Batista armou, de forma explícita, sua seleção para que seu camisa 10 brilhasse. Os hermanos vieram à campo em um 4-3-3 de base alta com Messi como um falso camisa 9. Exatamente a forma como Pep Guardiola arma o Barcelona. A sutil diferença - ou uma das - é a base da pirâmide, Benega e Cambiasso terão que nascer de novo - algumas vezes - para jogarem o que jogam Xavi e Iniesta.

Triângulo de base alta com dois meias de criação e um volante

Pedir para que Messi jogue ao lado de Banega, Cambiasso, Lavezzi, etc, o mesmo que ele joga ao lado de Xavi, Iniesta, Villa, Pedro...  é burrice e ignorância. Assim como exigir dele resultados expressivos com a seleção para que figure entre os grandes da história é contrariar nossa própria história. Zico seguramente está entre os maiores da história. Ou não ? E o Galinho conquistou o quê pela seleção ?

[Banega, Cambiasso, Mascherano, Lavezzi...  e tem gente que acha que Conca e D'Alessandro não tem espaço nessa seleção.]

Não exatamente na mesma linha de trabalho, mas na mesma filosofia de futebol ofensivo - o tal protagonismo - está a seleção de Mano Menezes - que até agora teve muitas frases de efeito e pouca evolução no trabalho.

Triângulo de base baixa com dois volantes e um meia de criação

Mano escalou a seleção no mesmo 4-3-3 dos hermanos, com a diferença que a base do triângulo de meio de campo brasileiro é baixa(dois volantes e um meia armador). Assim como com os hermanos, a tentativa de valorizar a posse de bola e impor um ritmo intenso no passe fracassou, e em uma tarde em que Ganso virou marreco e que as individualidades brasileiras pararam na dobra de marcação venezuelana, que surpreendentemente durou os 90 minutos, o telão do estádio serviu apenas para fazer a alegria da galera durante a transmissão.

Como bem disse Mano Menezes: "Não existe mais galinha morta no futebol". Então, se Brasil e Argentina não resolverem cantar de galo logo, só veremos Neymar x Messi em dezembro.