"Além dos sinais externos que denunciam - cabelos brancos, cabelo nenhum, rugas, barriga, essas indignidades - as gerações se reconhecem pelos jogadores de futebol que se têm na memória"

Luis Fernando Veríssimo

25 de mai. de 2014

Justiça

"Jornalista isento é mito" - alguém disse, e eu, em meu curto tempo de profissão, corroboro. No íntimo, todos têm uma preferência, uma tendência, uma opinião, o que muda, é a capacidade de não deixar que isso interfira no produto final, a notícia. No jornalismo esportivo essas características são potencializadas, "esconder" a preferência por "A" ou "B" é um tanto complicado.

Ontem, fui colchonero por uma tarde. Tomado, como tantos outros, por um complexo de "Davi x Golias". Impossível não se deixar contagiar pela temporada do Atlético de Madrid. Um "time de futebol" na mais pura essência da palavra. Um "jogo coletivo" dos melhores que já vi na vida.

Para a maioria um time "retranqueiro" que jogou por uma bola e teve a sorte de achá-la jogo após jogo. Visão pequena e superficial de quem só vê o óbvio, ou não. Mais do que uma defesa sólida, os alvirrubros jogam de maneira inteligente, e possuem recursos. Um meio de campo que sabe administrar a posse de bola em momentos chaves da partida e uma força mental impressionante, são capazes de lidar com as mais diversas situações de jogo sem se desorganizar em campo.

Torcida do Atletico aplaude equipe depois da final
A campanha fala por sí. No caminho dos colchoneros até a final, só campeões da liga, Milan, Barcelona e Chelsea. O Atlético de Madrid merecia o título. O futebol merecia o primeiro título do Atlético de Madrid. O inédito título do Altético de Madrid faria melhor ao futebol do que o décimo título do time que mais vezes venceu a Liga. Faria?

160 gols, melhor ataque da Europa na temporada - e acredite se quiser há quem chame Ancelotti e cia de "retranqueiros". Impressionantes 41 gols na liga, com um Cristiano Ronaldo em sua melhor fase batendo todos os recordes possíveis. Uma campanha irrepreensível, eliminando os dois finalistas da última edição da Liga, Bayern de Munique e Borrusia Dortmund, com autoridade. Seguramente, um dos times com maior capacidade de "contra-ataque" da história do futebol.

O Real Madrid tomou um gol em uma falha individual, em um dos poucos ataques que sofreu na partida. Depois disso, impôs seu domínio sobre a melhor defesa da Europa. E se aos colchoneros começava a faltar perna nos quinze minutos finais de partida, aos merengues faltou a presença de seus principais jogadores, Cristiano Ronaldo e Gareth Bale não apareceram para jogar. Mas aí, a principal diferença entre os times apareceu: elenco.

Dí Maria foi o melhor jogador da Final da Champions
Ao perder Diego Costa e Arda Thuran o Atlético ficou sem presença ofensiva, e se CR7 e B11 não estavam em seus melhores dias, não se pode dizer o mesmo de Dí Maria. Como joga esse argentino! E quando Simeone olhou para o banco em busca de alternativas, encontrou... Ádrian Lopez e Sosa. Ancelotti tinha a disposição Marcelo e Isco.

O Real Madrid de Ancelotti - treinador inteligente, que sabe extrair o melhor de cada jogador, e que não muda os jogadores de acordo com esquema, encaixa o esquema de acordo com as características dos jogadores - merecia o décimo título. Carlo Ancelotti merecia o quinto(!!!) título da Liga. O melhor do mundo merecia coroar a temporada com a "orelhuda". O futebol merecia registrar o incrível feito do Real Madrid: 10 títulos europeus! O décimo título merengue foi melhor ao futebol do que o primeiro título colchonero. Foi?

Décimo título do Real Madrid marca quinta conquista da carreira de Carlo Ancelotti e a segunda de Cristiano Ronaldo
Invariavelmente, fez-se justiça, e injustiça. E que registre-se: o gol do título, foi o do Sergio Ramos!

Nenhum comentário: