"Além dos sinais externos que denunciam - cabelos brancos, cabelo nenhum, rugas, barriga, essas indignidades - as gerações se reconhecem pelos jogadores de futebol que se têm na memória"

Luis Fernando Veríssimo

7 de jun. de 2015

Para a glória

Já houve uma época em que o principal lazer do homem era assistir outros homens lutarem até a morte. Homens que entravam em uma arena sabendo que apenas um sairia, com vida. Época em que a glória da vitória era ofuscada pelo prêmio maior, a vida. Séculos depois o conceito de diversão do homem permanece o mesmo, ao menos na essência. Embora não haja mais sacrifício de vida - ufa - a glória continua sendo um prêmio singular, ainda que para conquistá-la as vezes seja preciso trabalho em equipe. Um prêmio para quem demonstra a maior das virtudes: fé.

Mais do que talento ou capacidade técnica para se conquistar um objetivo, é preciso, antes de mais nada, acreditar nele. Fé é inerente a vitória. E não digo fé em Deus ou qualquer outra divindade - embora seja cristão - mas fé na própria capacidade de conquistar o que quer que seja. Exatamente o que faltou a Juventus hoje. Na linguagem do boleiro "dava pra jogar mais", fato comprovado nos primeiros quinze minutos do segundo tempo.

Há quem diga no futebol que um gol nos primeiros instantes de partida muda a história que já estava escrita. Fato. O lindo gol do Barcelona logo aos três minutos da primeira etapa certamente jogou por terra tudo que Massimiliano Allegri havia planejado para sua equipe. Se os planos para a partida desapareceram, a Vecchia Signora demonstrou a maior virtude do "mais fraco": auto controle. Apesar da derrota parcial, o time não se desesperou nem se desorganizou em campo. Não criou chances, mas também não correu riscos. Paciência por uma bola. Virtude válida, mas insuficiente para quem almeja a glória - ainda mais na derrota.

Derrota que ameaçou ir embora da mesma maneira como chegou: com um gol em um momento chave da partida. Por dez minutos realmente parecia que a história seria reescrita. O tal "auto controle" costuma ser o "calcanhar de Aquíles" de um favorito quando ele percebe que o favoritismo não está se confirmando, e por pouco a Juventus não se aproveitou disso.

Mas se por alguns instantes faltou auto controle ao mais forte, sobrou convicção. Mesmo nos momentos em que se desorganizou e quase pôs tudo a perder, o Barcelona sabia que era melhor, e jogou com isso em mente. Sem soberba, com respeito, e com convicção de que estava ali por razões muito claras: melhor time, melhor ataque, melhores jogadores. A glória era questão de tempo.

O Barcelona acreditou, a Juventus, mesmo após a bela campanha que fez, hesitou, e pagou o preço, no dia em que o futebol nos ensinou que virtudes e defeitos, como convicção, soberba, fé e descrença, são separados por uma linha tênue, chamada glória.


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